A embolização das artérias uterinas realiza-se em alguns países há quase duas décadas sendo utilizada em Portugal, desde 2004, no Hospital de Saint Louis, em Lisboa. Desde então, o hospital já realizou mais de 500 intervenções.Maria faz parte dessa estatística. Cansada de sofrer, mas determinada a preservar o útero, entregou-se às mãos do radiologista Martins Pisco.“O fibromioma foi expulso, a barriga deixou de estar inchada, as hemorragias e as dores diminuíram consideravelmente”, diz, contando a sua experiência ao CM.
COMO FUNCIONA
A embolização é utilizada desde 1974 para situações várias e sensivelmente há dez anos para o tratamento dos fibromiomas. Faz-se recorrendo a anestesia local e o internamento é curto, regra geral entre seis a oito horas. A mulher pode retomar a sua actividade no dia seguinte.
A técnica consiste na introdução de um cateter pela virilha direita até à artéria uterina direita e de seguida na esquerda. Depois colocam-se microesferas de material sintético, em ambas as artérias, que são absorvidas pelo fibromioma, ficando a passagem da alimentação sanguínea interrompida. A intervenção demora uma a duas horas, preserva a fertilidade e envolve menos riscos que as técnicas cirúrgicas.
Não é, porém, totalmente isenta de riscos, tal como explica Martins Pisco.“A única contra-indicação é se a paciente tiver um tumor maligno ou uma infecção pélvica. Nesses casos, não podemos realizar a intervenção”.Na maior parte dos casos, refere o radiologista, “os fibromiomas não desaparecem completamente, mas a sua dimensão é reduzida até 90%”.
No entanto, continua, “a partir do momento em que o mioma deixa de ser irrigado, existe a garantia de que não vai crescer e incomodar as pacientes”. Que o digam as mulheres que optaram por esta técnica.Katia tem 33 anos e está no final da gravidez. “Já tive um aborto com 7 semanas porque tinha um mioma, o meu médico disse-me que podia fazer uma cirurgia ou a embolização”, recorda. Optou pela técnica de intervenção. “As dores melhoraram imenso, tinha períodos menstruais de 9 dias, passei a ter apenas de três”, garante.
Meses depois, engravidou. O bebé pode nascer a qualquer altura.Isabel tinha pouco mais de 30 anos, quando descobriu que tinha fibromiomas. “Consultei vários ginecologistas, uns queriam operar, outros diziam que a solução era retirar o útero”, conta. Um dia, uma amiga falou-lhe da embolização. “Estive indecisa um ano, falei com várias pessoas, mas ninguém conhecia o método”. Acabou por arriscar. Tem agora 43 anos e vai ter um rapaz no próximo mês.
PORMENORES MÉTODO AMERICANO
Foi em 1996 que Martins Pisco realizou a primeira embolização em Portugal, técnica que trouxe dos Estados Unidos.
INTERNAMENTO
O tempo de internamento é curto, geralmente, seis a oito horas. A mulher pode retomar a sua actividade no dia seguinte.
SINTOMAS
Os sintomas dependem da localização e do tamanho do mioma. Hemorragias e dor na região pélvica são dois dos sintomas.
NOVE GRÁVIDAS
Entre 2004 e 2007, nove mulheres ficaram grávidas, após serem submetidas à embolização dos fibromiomas
TRÊS ANOS PARA ENGRAVIDAR
“Fiz uma ecografia onde me foi detectado um fibromioma e vários miomas no útero. Tinha 33 anos e o ginecologista disse-me que tentar ter filhos ia ser como ‘plantar sementes sem pá’. Mudei de médico e fiz uma histerossalpingografia, onde descobri trompas obstruídas. Fiz duas miomectomias no Hospital de São João e, a seguir, fiz três fertilizações ‘in vitro’ falhadas porque o meu útero era irregular. Depois de tudo isto e, como tinha menstruações muito abundantes, tomava injecções uma vez que o meu útero não era operável, a não ser que o retirasse.
A minha médica aconselhava-me uma histerectomia. Mas fiz a embolização para manter o útero. Os meus miomas e as hemorragias diminuíram bastante. Dois anos depois engravidei. Teve que ser cesariana porque, com a gravidez, os miomas começaram a crescer e, na altura do parto, aproveitaram para me fazer outra miomectomia. Mantenho o útero e sou mãe”, Sónia Cardoso, 36 anos, Porto.
TRATAR VARIZES DA VAGINA E AS DO ÚTERO
As varizes da vagina e do útero são uma situação clínica cujo diagnóstico pode ser difícil na medida em que não existem alterações exteriores que as tornem visíveis. Associadas à dilatação de uma ou ambas as veias ováricas, podem-se manifestar ou agravar após o parto, devido ao maior fluxo sanguíneo e à compressão das veias ováricas pelo útero portador de gravidez. “Estas pacientes têm dores no baixo ventre que aumentam com a intensidade dos esforços e também durante as relações sexuais”, explica Martins Pisco.
Mais frequentes em mulheres de meia-idade que já tiveram um filho podem ser detectadas através de uma angiografia da veia ovárica: “Muitas vezes a ecografia, a ressonância magnética e a tomografia são negativas”, diz o especialista. O tratamento das varizes escleroterapia das veias ováricas – consiste na colocação do cateter na veia ovárica, seguida de injecção do esclerosante usado pelos cirurgiões vasculares nas varizes. Após esta intervenção, as varizes reduzem substancialmente ou desaparecem por completo.
"UMA PARTE DAS MULHERES RECUSA A CIRURGIA"
(Prof. Martins Pisco, chefe do serviço de Radiologia do Hospital Pulido Valente)Correio da Manhã
– Quando é que fez a primeira embolização?
Martins Pisco – Foi em 1996 a uma paciente de 46 anos com um fibromioma de grandes dimensões e à qual era difícil operar. Passadas seis semanas e tendo a massa reduzido para metade, a senhora foi operada e retiraram-lhe o útero sem complicações.
– Que idade têm as suas pacientes?– A mais jovem que atendi tinha 23 anos e a mais velha 58 anos. Em 2004, comecei a fazer embolizações no Hospital de Saint Louis e já realizei mais de 500.
-Como é que chegam até si?– Umas vezes são enviadas pelos médicos, outras porque amigas lhes falam da técnica. Uma parte substancial, são mulheres que recusam a cirurgia e que pesquisam alternativas na internet.
-Quanto custa a intervenção?– A título particular custa 3750 euros. Mas o hospital de Saint Louis tem acordos com várias companhias de seguros e subsistemas de saúde e em casos pontuais faz planos de pagamentos. Se a paciente não tem a verba imediatamente não deixará de ser tratada.
500.ª PACIENTE DE MARTINS PISCO
No dia 12 de Outubro, Martins Pisco tratou a paciente número 500. Contactada pelo CM, a paciente, de 42 anos e da zona Centro, recorda: “Tinha fibromiomas e optei pela embolização. Estive uma tarde no hospital e nesse mesmo dia regressei a casa. Passou apenas uma semana e sinto-me muito melhor”.»
Fonte:Correio da Manha
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