segunda-feira, 29 de outubro de 2007

UM... DOIS... TRÊS... QUATRO!


«Amarante, Maternidade Júlio Dinis, no Porto, e Margarida Leite não tinham.
Agora, têm. Quadrigémeos.

Nasceram ontem, às 14.48, 14.50, 14.51 e 14.52 horas. De gestação espontânea, caso raríssimo.Francisco Agostinho foi o primeiro a entrar em cena. Seguiram-no Nuno Gonçalo, Margarida Leonor e Maria Beatriz. Filhos de uma jovem, de 22 anos, e de Jorge Almeida, 13 anos mais velho. São da Lomba, freguesia de Amarante."Acho que correu tudo bem.

Estou com muitas dores, com tantas que não consigo pensar". O epílogo foi escrito por Margarida Leite, encolhida na sala de recobro, amparada pela mãe, Maria Alice, e pelo marido.Rosa Maria Rodrigues, chefe do Serviço de Obstetrícia da Maternidade Júlio Dinis e da equipa que assistiu o parto, de cesariana, não a desmente. "A mãe está bem e os bebés também.

Os procedimentos não foram muito diferentes do usual. O acompanhamento prévio é que foi mais apertado, até porque os nascimentos só estavam previstos para daqui a cerca de duas semanas".Se tal se tivesse verificado, Margarida Leite completaria quase três quinzenas internada. As crianças não vão, durante "um mês, mês e meio", conhecer outro tecto que não seja o da maternidade. Segundo a pediatra Ana Braga, as meninas estão com respiração assistida, circunstância "normal" em prematuros, no caso, de 29 semanas e cinco dias.Dentro da absoluta normalidade, inscreveram-se igualmente as lágrimas que o corredor de acesso à sala de partos testemunhou.

As de angústia e de alegria de Jorge e Maria Alice. Espaçadas por cerca de uma hora. Tímidas.Rebobinar."Sabes que vou ter quatro bebés?""Quatro? Ai, Nossa Senhora. São tantos".Ocorrido após uma ecografia no hospital de Penafiel, o minúsculo diálogo informou Maria Alice de que, dentro de meses, passaria a ser avó de sete netos. "Foi Deus que nos deu. Encarámos bem. Mesmo que não encarássemos...", sorri, ao "Jornal de Notícias".A verdade é que a vida não vai ser apenas em tons de rosa e azul. Margarida e Jorge - auxiliar de acção médica no Hospital S. Gonçalo, em Amarante - vivem com os pais dela. Só os homens é que convidam o salário a entrar lá em casa.

"Cestos e carrinhos é o que nos faz mais falta", admite Maria Alice."A Dodot e a Nestlé já se disponibilizaram a oferecer fraldas e leite. E escrevi a outras empresas, como a Mustela", tinha segredado, quando as contracções ainda permitiam o verbo, Margarida. Na ocasião, os nervos e o medo já se tinham alojado junto à futura mãe.

Quando forem para a Lomba, os quatro gémeos - falsos - têm à sua espera um quarto, que terá de servir até "haver possibilidades de arranjar um para os meninos e outro para as meninas", afirma a avó. "Vai ser um bocado complicado, mas tudo será feito para que não falte nada". É óbvio, mas a um pai fica bem.Curiosamente, a melhor síntese - elaborada ainda em período pré-parto - da nova realidade ficou por conta da vizinha de Margarida na sala 3 de Cuidados Especiais. Andreia, proprietária de olhos claros e de uma gravidez de duas meninas "Quando soube da situação dela, achei que já não tinha problema nenhum".

Tem no telemóvel foto de bebé que ajudou a nascerFilomena Pinto, AnestesistaGesticula muito e fala bastante. Não aceita menos do que a eficiência. Filomena Pinto é anestesista há uma dúzia de anos e foi a responsável por colocar Margarida Leite - que, ontem, ofereceu quatro filhos ao marido - a dormir.

Foi a primeira vez que se viu perante a tarefa de ajudar a resolver uma gravidez de quadrigémeos. No entanto, o facto não a obrigou a qualquer espécie de preparação particular. Filomena Pinto afirma que, a partir do momento em que começa a trabalhar, se abstrai de tudo. Inclusivamente, já anestesiou "o marido e uma prima".

A anestesia geral, que foi administrada a Margarida Leite, serve, sobretudo, "para evitar hemorragias", até porque se "trata de uma primeira gravidez e o útero está muito grande". Aliás, salienta que, devido à dimensão dele, se vai verificar "alguma dificuldade" na reaquisição do formato uterino normal. Não resume a actividade à Maternidade Júlio Dinis, no Porto.

A energia de Filomena Pinto alarga-se a uma clínica em Espinho e a um estabelecimento hospitalar em Vila Nova de Famalicão. De qualquer forma, a anestesista parece ter fugido a uma maldição familiar - entre os parentes, conta sete advogados. Sete. Quando o "Jornal de Notícias" a deixou, estava agarrada ao telemóvel. No qual guarda a fotografia de um prematuro que ajudou a nascer, há um ano. O menino pesava 500 gramas. »

Fonte:Jornal de Notícias

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