«Na passada semana, o pediatra Mário Cordeiro apelou ao Ministério da Saúde que autorize os pais a assistir ao nascimento dos filhos, mesmo em caso de cesariana, defendendo que os homens têm todo o direito a acompanhar o parto. Actualmente, os hospitais, quer públicos, quer privados, permitem a presença paterna quando se trata de parto normal, no entanto quando é realizada uma cesariana, as instituições de saúde opõem-se à presença dos pais nos blocos operatórios.
Na opinião do director da Unidade de Ginecologia/Obstetrícia do Hospital Central do Funchal, Miguel Ferreira, essa é uma medida que deve continuar, porque quanto mais pessoas estiverem na sala de operações, o risco de infecções intraoperatória aumenta. É que, «se nós vamos permitir a presença dos pais, ainda por cima pessoas que não estão habituadas aos cuidados da sépsia é evidente que vamos aumentar a taxa de risco de infecções. Isso é tudo conversa fiada, se fosse assim operávamos na varanda. Temos de ter cuidado, o próprio ar condicionado tem de ter filtros para evitar esse tipo de situações, entre outros cuidados», explicou aquele obstetra.
A presença dos pais numa cesariana era possível se houvesse blocos operatórios com um anfiteatro em que os homens podessem assistir ao parto numa outra sala isolada, com a sua própria roupa, mas na sala de operações «não concordo. É uma questão de segurança para o utente», salientou.A maioria dos pais assiste aos partosConfrontado se há muitos pais a assistir ao parto, Miguel Ferreira confirma que a maioria dos nascimentos são assistidos. «A maioria das mulheres pede para levar alguém, umas levam a irmã, a mãe ou a amiga, mas a grande maioria pede para que o marido esteja presente».
Além das cesarianas, a excepção para a presença de algum familiar vai para os partos instrumentalizados, «porque podemos ter que fazer reanimação imediata e é melhor a equipa técnica estar sozinha. Além disso, é mais seguro porque eventualmente quem assiste pode sentir-se mal e aí ainda nos baralha mais», sublinhou o especialista. Apesar de tudo, aquele obstetra defende a presença dos pais durante o nascimento do seu filho através de parto normal, «porque é um momento giríssimo e deve estar presente para ajudar a própria mãe».
Sobre a possibilidade de os pais assistiram à cesariana, o nosso jornal contactou ainda o pediatra, Manuel Pedro, que afirmou que, no caso das cesarianas programadas, «não vejo qualquer razão do pai não assistir». Também para este especialista, o principal problema que se coloca é a falta de condições para os pais assistirem à operação cirúrgica, por causa dos cuidados a ter com a esterilização.
O pediatra Mário Cordeiro, autor de vários livros sobre ciranças, professor auxiliar de Saúde Pública na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, e Presidente da Secção de Pediatria Social e Comunitária da Sociedade Portuguesa de Pediatria, defende que o Ministério da Saúde devia autorizar os pais a assistir ao nascimento dos filhos, mesmo em cesariana. "A Direcção-Geral da Saúde e o Ministério da Saúde deviam ser implacáveis e estabelecer uma regra para todos, obviamente com base científica", afirmou Mário Cordeiro.
Para o especialista, "não se justifica" que os hospitais tenham regras diferentes para partos distintos, dando o exemplo de unidades privadas que têm normas opostas sobre a presença dos pais quando se trate de parto natural ou cesariana com epidural. Na generalidade dos hospitais portugueses, quer públicos quer privados, a presença do pai quando o parto é natural é já uma prática comum, mas quando é realizada uma cesariana (mesmo só com recurso a epidural, estando a mãe acordada) muitas instituições opõem-se à presença paterna. "Se é um nascimento, devem estar lá as pessoas envolvidas.
Os donos do momento são ambos os pais; os médicos e enfermeiros são apenas uma espécie de auxiliares", argumentou. O pediatra atribui "à arrogância profissional" de alguns profissionais de saúde a recusa da presença do pai aquando da cesariana. O pediatra criticou ainda que em "cerca de 80 por cento dos casos" os profissionais de saúde levem imediatamente o bebé para longe dos pais depois do nascimento. "Na maioria das vezes, os pretextos (limpar o bebé ou fazer o exame da anca) não são válidos. O profissional acaba por causar muito sofrimento aos pais". »
Fonte:Jornal da Madeira
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