«Os grandes gestores do momento não estão nos bancos nem na Bolsa. Estão em nossa casa e são a maioria da classe média portuguesa que tem de viver o dia-a-dia com cerca de 600 euros por mês. Aqueles para quem tomar um café é um “luxo” incomportável e uma ida ao restaurante é uma escolha impossível.
Milhares de famílias vivem com um ou dois salários mínimos (403 euros por mês). Não passam fome, não têm dívidas bancárias, vestem, alimentam e educam os seus filhos ano após ano. O seu segredo é só um: a ajuda da família. Em vez de recorrer ao crédito bancário, recorre-se à ajuda familiar quando sobram os dias em relação ao salário.
A família Angélico exemplifica a capacidade de gestão das famílias portuguesas. Pai, mãe e dois filhos pequenos vivem, mensalmente, com 600 euros. “Vivo melhor do que muita gente que ganha mais”, conclui Carlos Angélico, depois de detalhar ao Correio da Manhã o dever e o haver de um orçamento que não permite ir além do essencial, uma vez que é o único a trabalhar. “A comida não pode faltar aos miúdos”, afirma o operário da construção civil de 31 anos, definindo assim quais são as prioridades da família. O leite, os iogurtes fazem parte das compras no supermercado, feitas logo no início do mês para garantir que “não faltam”.
A cadeia de supermercados onde se abastece já é das mais económicas do mercado mas ainda assim Carlos sabe de “um ainda mais barato” mas não tem carro para o levar até lá. A carne e o peixe, e eventualmente algum produto de limpeza que faça falta, são comprados durante a semana. “Compro bifanas e costeletas”, explica Patrícia Angélico, reconhecendo que são estes os produtos mais acessíveis do talho. O peixe também entra nos menus familiares, sobretudo “carapau e caxucho”, mas neste caso a jovem de 23 anos conta com uma facilidade que permite ganhar alguma folga: o comerciante vende fiado.
Em transportes também não gastam: o trabalho de Carlos é mesmo em frente da casa e a creche do Rafael também é perto.Não fora estas “pequenas ajudas” e uma forte rede familiar, o baixo rendimento traria graves dificuldades ao casal. Sobretudo neste momento em que Carlos Angélico está de baixa e recebe apenas 560 euros, 90 dos quais da Assistência Social. “Temos uma boa família”, sublinha Carlos, recordando que só o facto de não pagar renda é um grande apoio. A avó cedeu-lhe o espaço para um anexo que construiu. Um furo garante a água e a luz é dividida com a avó. Nos meses mais difíceis, o acerto de contas é adiado, confessa Patrícia.São também os familiares que oferecem a roupa e alguns brinquedos ao Rafael, que insiste que ainda não tem três anos, e ao Leandro, que fez há pouco tempo um ano.
Sem a ajuda da família seria impossível, reconhece Carlos Angélico que recusa liminarmente qualquer tipo de crédito. “Nem cheques temos”, afirma, como se desta forma impedisse a tentação de gastar mais do que o que tem.“Se temos, podemos gastar, se não temos, não compramos”, garante recordando a última grande aquisição da família, um computador. “Andei a poupar durante mais de dois anos para o comprar”, explica. Mas esta despesa de 800 euros, num orçamento onde todo o cêntimo tem de ser justificado, tem a sua razão de ser. “Assim crio condições para ficarmos em casa e não precisamos de ir ao café”, explica Carlos. É que, garante, riscou as idas ao café, ao cinema e até a fazer uma refeição fora de casa. “Não dá para isso”, sublinham Carlos e Patrícia Angélico.
"VIVO NUMA LUTA DIÁRIA PELAS MINHAS FILHAS
"Viver do salário mínimo (403 euros) com duas filhas menores (sete e 11 anos) é o exercício diário de Luciana Rodrigues de 29 anos que vive em Melgaço. É auxiliar no Centro Comunitário Associação Social e Cultural de São Cosme e Damião de Podame (freguesias de Melgaço), onde cuida de idosos. Foi mãe aos 18 anos, o casamento não resistiu, o que dificultou ainda mais a situação económica. Mas mais uma vez “a rede familiar” estava lá para ajudar.Vive em casa da mãe, que toma conta das netas quando Luciana vai para o trabalho.
As crianças sofrem de bronquite asmática e uma delas de insuficiência renal, tendo sido submetida a várias intervenções cirúrgicas nos últimos anos. Só em bombas para asma gasta cerca de 80 euros, fora os outros medicamentos.“Para além do meu salário, recebo ainda o abono de família e para ganhar mais uns trocos faço umas horitas de limpeza e de lavoura, para tentar concretizar alguns desejos das minhas filhas, para que não se sintam tão desfavorecidas em relação às outras crianças”. Vestem e calçam roupas que lhes são dadas por uma prima, recebem brinquedos dos tios e padrinhos que são emigrantes. Mantém com as filhas uma relação de grande cumplicidade. Desde muito cedo teve o cuidado de lhes explicar as limitações económicas que têm.
“Não podem pedir nada de exuberante porque eu não posso dar, já que só conto com o meu salário, o abono de família e a pensão do pai que é de 140 euros para as duas e que já vão alguns meses que não paga”.Como qualquer cidadã faz os seus descontos para a Segurança Social mas encontra-se isenta de impostos.No tempo que lhe resta, cultiva terrenos que estão abandonados pelos donos para poder plantar batatas, hortaliças, legumes, árvores de fruto e cria galinhas, ovelhas e porcos para poder poupar algum dinheiro no seu orçamento mensal.“Vivo uma luta diária pelas minhas filhas, não posso ficar doente, senão as minhas filhas vão viver de quê?
COMO ESTICAR O ORDENADO ATÉ AO FIM DO MÊS?
1. CONTA ORDENADO Estas contas representam um saldo descoberto autorizado no valor do ordenado. Mas o utilizador terá de ter em atenção a taxa TAEG (que inclui todos os custos, para além do juro) que é aplicada sempre que se opte por pagar em prestações o dinheiro utilizado na conta ordenado. O melhor é pagar tudo de uma só vez.
2. CARTÃO DE CRÉDITO Este cartão pode ser um bom instrumento para fazer face às despesas até ao novo ordenado, desde que seja bem utilizado, isto é, desde que não tenha anuidade e que o pagamento seja feito na totalidade, explica Natália Nunes, da DECO. Se oferecerem dinheiro pelo valor das compras, melhor.
3. CARTÃO DE CLIENTE Os cartões de alguns estabelecimentos comerciais ajudam a gerir o orçamento mensal. Sobretudo os que permitem o pagamento faseado, sem juros durante um período de tempo, e os que oferecem descontos, por exemplo, no combustível, mas, mais uma vez, recomenda Natália Nunes, é preciso ponderar o seu uso.
COMO APLICAR CINCO MIL EURO
1. O tipo de investimento a efectuar por um investidor depende do seu perfil de risco. Recomendamos ainda que o investidor opte sempre por uma carteira diversificada. Para um cliente de menor dimensão, recomendaria o Santander Global, um fundo com objectivos de retorno absoluto e que desde o seu lançamento tem oferecido rentabilidades bastante superiores à taxa de juro.
CINQUINTA MIL EUROS
2. Para clientes de maior dimensão e que consigam ter acesso a uma carteira Premium recomendaria exposição ao segmento Selection. Outra opção seria o Santander Carteira Alternativa, um fundo de Hedge Funds, com objectivos de retorno absoluto e que tem apresentado rentabilidades muito atractivas nos últimos anos.
CONSELHOS PRÁTICOS PARA POUPAR
LISTA
Nunca vá ao supermercado sem uma lista dos bens que realmente precisa. Corte as compras por impulso.
‘BRANCAS'
As chamadas “marcas brancas” conseguem igualar em qualidade os restantes bens e são muito mais baratas.
SALDOS
Deixar as compras de roupa para a época dos saldos é uma forma de economizar centenas de euros por ano.
FACTURAS
Leia todas as facturas que recebe em casa. Podem existir despesas que devem ser eliminadas logo no mês seguinte.
ÁGUA
Controle os gastos e feche bem as torneiras. Uma torneira a pingar pode gastar cerca de 25 litros de água por dia.
ENERGIA
Adira a planos de baixo consumo, com tarifas reduzidas a partir das 22h00, que permitem poupar nas contas.
CRIANÇAS
Ensine os seus filhos a poupar, oferecendo mealheiros e estimulando-as a guardar o dinheiro que lhes dão.
CARRO
Deixe o carro em casa e prefira os transportes públicos. Se tiver de usar o carro divida-o com mais pessoas.
NOTAS
IDAS AO CAFÉ ACABARAM
Sem se dar por isso, o café diário pesa no orçamento familiar. Há muito que a família Angélico perdeu o hábito da bica. Tal como as refeições fora. O casamento, confessam a rir, foi festejado numa cadeia de fast food.
AVÓ MATERNA TAMBÉM AJUDA
A ajuda da avó materna vai ser fundamental no próximo mês, quando Patrícia Angélico for trabalhar. Um contrato por um mês nas limpezas ainda a fez pensar numa ama. Mas os 130 euros pedidos eram uma despesa incomportável.
BRINQUEDOS NOS CHINESES
Os poucos brinquedos que a família Angélico oferece aos filhos são comprados nas lojas chinesas. São os mais baratos que encontram e, mesmo assim, só muito de vez em quando, porque são um extra num orçamento contido.
EXCESSO COM O PRIMEIRO FILHO
Quando nasceu o primeiro filho, Carlos Angélico gastou o ordenado em roupa para festejar. Um excesso, reconhece agora, numa altura em que a roupa com que veste os dois filhos é oferecida por familiares e em que tudo passa para o mais novo.
2 MILHÕES COM 300 EUROS
Segundo o economista Eugénio Rosa, “mais de dois milhões de portugueses vivem com um rendimento inferior a 300 euros por mês”
AUTOCONSUMO AUMENTA
Tem vindo a aumentar o fenómeno da agricultura de subsistência nas grandes cidades. As pequenas hortas sempre contribuem para a poupança das famílias
PLANEAMENTOS SEMANAIS
Seguindo a tradição anglo-saxónica, fazer orçamentos semanais ajuda as famílias a identificar mais oportunidades de poupança e a racionalizar as despesas
IDAS AOS PARQUES PÚBLICOS
Levar as crianças a passear aos parques públicos é uma forma económica de passar um fim-de-semana divertido e aumenta a qualidade de vida
VÍNCULOS PRECÁRIOS
A multiplicação de contratos de trabalho precários tem contribuído para aumentar a pressão sobre os salários, que tendem a descer
SUBIDA DE 12 EUROS
Segundo Eugénio Rosa, nos últimos dois anos o salário médio dos portugueses terá subido 12 euros passando de 734 para os 746
AMANHÃ: Quanto ganham os portugueses?
CONTAS À VIDA DA FAMÍLIA ANGÉLICO
150 euros (Supermercado no início do mês)40 euros (alimentação semana)50 euros (medicamentos)32 euros (creche Rafael)45 euros (electricidade e gás)30 euros fraldas10 euros (ração cão)5 euros catatua (ração catutua)15 euros telemóveisTotal: 497 euros
DESPESAS DO AGREGADO FAMILIAR EM PORTUGAL
DESPESAS COM HABITAÇÃO: 19,8%MÓVEIS, DECORAÇÃO E EQUIPAMENTO PARA CASA: 7,2%SAÚDE: 5,2%TRANSPORTES: 15%COMUNICAÇÕES: 3,3%LAZER E CULTURA: 4,8%ENSINO: 1,3%HOTÉIS, CAFÉS, RESATURANTES E SIMILARES: 9,5%OUTROS: 6,1%ALIMENTAÇÃO E BEBIDAS NÃO ALCOÓLICAS: 18,7%BEBIDAS ALCOÓLICAS E TABACO: 2,8%VESTUÁRIO E CALÇADO: 6,6»»
Fonte:Correio da Manhã
Link:http://www.correiomanha.pt/noticia.asp?id=265418&idselect=9&idCanal=9&p=200
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