terça-feira, 22 de setembro de 2009

Filhos: O desafio de uma vida


(continuação)
«A mesma consequência tem a presença de adesões pélvicas, tecido cicatrizado que permanece após uma infecção ou uma cirurgia pélvica e que, se envolver os ovários ou as trompas, pode afectar a fertilidade.



Estas são as causas mais comuns da infertilidade na mulher. Há outras como o uso de determinados medicamentos, a existência de deficiências ao nível da tiróide, o tratamento a cancros no sistema reprodutor e algumas doenças como o HIV/Sida ou a diabetes.



A estes factores junta-se o risco próprio associado à idade, ao peso e a determinados hábitos. Sabe-se, por exemplo, que as mulheres que fumam podem ver reduzidas as suas probabilidades de conceber, sendo os abortos mais frequentes. Sabe-se também que não existe uma quantidade de álcool segura quando se pretende engravidar. E que o excesso de peso pode afectar a ovulação.



Também as mulheres que seguem uma dieta demasiado restritiva ou que sofrem de desordens alimentares como a anorexia e a bulimia correm este risco. O mesmo acontece com as que são sujeitas a um esforço físico intenso, como as desportistas, em que são frequentes as irregularidades menstruais.



Quanto ao risco associado à idade, tem a ver com o facto de o potencial de fertilidade da mulher decair gradualmente quando ela entra na terceira década de vida. A mulher nasce com um número determinado de ovócitos, que vai sendo desperdiçado até à puberdade. Nessa altura, do milhão de ovos potenciais que possuía à nascença permanecem apenas cerca de 100 mil por ovário, não havendo renovação.







Pelo lado masculino



É ao nível do esperma que se centram as principais causas da infertilidade masculina. A começar pela ausência total de esperma, aquilo que se designa como azoospermia: é uma situação rara, mas possível e na sua origem está, geralmente, uma afecção grave ao nível dos testículos, bem como o bloqueio ou ausência de vasos deferentes.



Uma insuficiente concentração de espermatozóides também é causa de infertilidade, o que corresponde à existência de 10 milhões de espermatozóides por mililitro de sémen, ou menos, quando o normal são 20 milhões ou mais.



Pode ainda acontecer que os espermatozóides não possuam uma forma e estrutura apropriadas, o que os impede de se moverem rapidamente e na direcção certa. Quando isso acontece, podem não ser capazes de ir ao encontro do ovo, falhando a fertilização.



Considera-se ainda como causa de infertilidade masculina associada ao sémen a chamada ejaculação retrógrada: neste caso, durante o orgasmo, o sémen desloca-se para a bexiga em vez de avançar para o pénis.



É uma situação comum em homens que foram sujeitos a intervenções cirúrgicas pélvicas, ao nível da próstata, por exemplo. Ou nos diabéticos, bem como nalguns que tomam medicamentos do foro psiquiátrico. Outra condição possível é a ausência de ejaculação, o que pode acontecer em homens com lesões ou doenças ao nível de espinal-medula.



Nos testículos concentram-se também algumas das causas mais frequentes da infertilidade masculina. É o que se passa com o criptorquidismo, situação em que um ou ambos os testículos não descem do abdómen para o escroto durante o desenvolvimento fetal. Uma das consequências pode ser uma produção menor de esperma, dado que o testículo recolhido está submetido a uma temperatura mais elevada do que a do escroto.

A temperatura é, aliás, um dos factores que intervém na fertilidade do homem. É que a formação de esperma é mais eficiente a cerca de 34ºC, uma temperatura inferior à do corpo humano.



Mas os testículos conseguem mantê-la graças à sua localização, ou seja, por se encontrarem fora da cavidade corporal. Significa isto que um aumento da temperatura - devido, por exemplo, a uma febre prolongada ou à exposição ao calor excessivo (no banho diário ou na sauna) - pode prejudicar a produção de esperma, reduzindo a quantidade e mobilidade dos espermatozóides.



Ainda no domínio das causas da infertilidade masculina, o estado de saúde e o estilo de vida também têm uma quota de responsabilidade. Doenças como as da tiróide, a diabetes, a sida e insuficiência cardíaca e renal têm sido associadas a uma menor fertilidade, o mesmo acontecendo com o stress, uma alimentação deficiente em vitaminas e minerais, a obesidade, o consumo de álcool e o tabagismo.







Um (longo) caminho a dois



Quando o desejo de constituir família esbarra na incapacidade de conceber, emergem naturalmente múltiplos e potentes sentimentos. Mas é importante que, nesse tumulto de emoções, o casal encontre o caminho que o conduza à ajuda médica.



O primeiro contacto deve ser pelo médico de família ou pelo ginecologista, que o encaminhará para uma consulta da especialidade. Nos hospitais públicos ou em clínicas privadas, a Ciência consegue contornar muitas das razões de infertilidade.



Uma vez perante um especialista, ambos os membros do casal são sujeitos a uma série de exames de modo a identificar a causa da infertilidade. Existem testes específicos para determinar a infertilidade masculina e a feminina, ainda que, com frequência, haja uma combinação de factores a influenciar a dificuldade em conceber e não uma causa única. Além de que, nalguns casos, a infertilidade permanece por explicar.



O tratamento depende da causa, da duração da infertilidade e de muitos outros factores, sendo que há causas que não são passíveis de correcção. Estão, no entanto, disponíveis vários métodos que permitem a uma mulher engravidar e que passam por restaurar a fertilidade ou por uma das diversas técnicas de reprodução ou procriação medicamente assistida.



Restaurar a fertilidade implica uma maior frequência das relações sexuais para, assim, aumentar as probabilidades de concepção: é que os espermatozóides podem sobreviver no corpo da mulher por 72 horas e um ovo pode ser fertilizado nas 24 horas seguintes à ovulação, tratando-se de criar o máximo de oportunidades para que esse encontro seja bem sucedido.



Para as mulheres com desordens ovulatórias, a primeira linha de tratamento implica o uso de medicamentos específicos para regular a ovulação. São, no entanto, fármacos a que está associado o risco de nascimentos múltiplos. Quanto à infertilidade por obstrução das trompas de Falópio pode ser ultrapassada com recurso a cirurgia, sendo a laparoscopia uma das técnicas utilizadas para reparar os bloqueios e lesões.

Mais difícil de tratar é a infertilidade devida a endometriose: a terapia ovulatória é uma das alternativas, a par da fertilização in vitro, mediante a qual o ovo e o espermatozóide são unidos em laboratório e só depois transferidos para o útero.



A fertilização in vitro é, aliás, uma das técnicas pioneiras da chamada reprodução medicamente assistida. Mas há outras como a infecção citoplasmática, que consiste numa técnica microscópica de implantação directa de um único espermatozóide num ovo.



Estas são técnicas que resultam melhor em mulheres com um útero saudável, que respondam bem aos medicamentos de fertilidade e que ovulem naturalmente. Há, no entanto, algumas complicações possíveis. Desde logo, a de uma gravidez múltipla, mas também a de hiperestimulação dos ovários, mais frequente nas mulheres com ovário poliquístico.



Quanto às causas da infertilidade masculina, a sua identificação e consequente tratamento envolve um conjunto de testes que visam, antes de mais, avaliar a condição física, para despiste de doenças que tem ou já teve, medicamentos que toma habitualmente e hábitos sexuais.



Depois, é feita uma análise ao sémen, de modo a aferir da quantidade e qualidade dos espermatozóides. Permite ainda detectar eventuais infecções ou a presença de sangue. Uma análise ao sangue pode também ser necessária, com o objectivo de medir os níveis de testosterona, a principal hormona masculina.



Homens e mulheres partilham algumas abordagens, de que é exemplo o aumento da frequência das relações sexuais. Mas há intervenções mais específicas, dirigidas à quantidade e/ou qualidade do esperma.



A alternativa pode ainda residir em medicamentos utilizados para induzir a ovulação na mulher: são fármacos, como o clomifeno, que contribuem para aumentar a quantidade de esperma, ainda que não influenciem a sua qualidade ou mobilidade.



Nos homens com esperma normal, mas escasso, os índices de gravidez melhoram com a inseminação artificial, em que é aproveitada a primeira porção do sémen ejaculado, mais rica em espermatozóides. A fertilização in vitro e a transferência de gâmetas também são eficazes em determinados tipos de infertilidade masculina.



Independentemente das alternativas, este é um caminho feito de avanços e recuos. Porque o mais provável é serem necessárias várias tentativas até se vencer o desafio de dar vida a um filho do amor. Com a certeza de que, em Portugal, são cada vez mais os bebés que a Ciência traz ao mundo.



Muitos passos se deram desde que, em 1986, nasceu o primeiro filho da reprodução medicamente assistida no nosso país.







(in)Fertilidade



Apoiar, informar e defender as pessoas inférteis em Portugal é o objectivo da Associação Portuguesa de Fertilidade, constituída em Maio de 2006 a partir de um movimento cívico e associativo em torno da infertilidade. Na sua origem esteve a constatação de que, duas décadas após o início da procriação medicamente assistida no nosso país, ainda era muita a falta de informação e muito o desinteresse pelas questões (psicológicas, sociais e económicas) em torno da infertilidade.



Dois anos depois, e já com uma lei sobre a procriação medicamente assistida, a associação continua a pugnar pela assistência médica e psicológica das pessoas inférteis em Portugal.



Dos seus objectivos consta a celebração de parcerias com entidades públicas e privadas nesta área, a promoção do alargamento da rede pública dos centros de tratamento de infertilidade e a certificação internacional das clínicas privadas, incluindo a publicitação das respectivas taxas de sucesso, da equipa médica e dos preços praticados, a construção de uma base de informação detalhada sobre todas as questões relacionadas com a infertilidade em Portugal, incluindo um directório com as clínicas públicas e privadas, locais de alojamento, processos nacionais e internacionais de adopção de crianças e um manual sobre a infertilidade.



Propõe-se ainda promover o debate público e científico sobre a infertilidade, nomeadamente através de acções de divulgação e mediante o patrocínio de encontros científicos, criar uma linha telefónica específica e uma rede nacional de aconselhamento e apoio psicológico, estabelecendo contratos com profissionais na área da saúde e formando um conjunto de associados disponíveis para trabalho de voluntariado, bem como representar as pessoas inférteis junto das instituições e agentes, particulares ou estatais, que em Portugal se ocupem de matérias relacionadas com a infertilidade.



Para a prossecução dos seus objectivos, associou-se em Fevereiro de 2007 à Plataforma Saúde em Diálogo, uma estrutura de solidariedade e entreajuda que reúne promotores de saúde, associações de doentes e consumidores. Criada sob a égide da Associação Nacional das Farmácias, a plataforma representa já 29 entidades.



São os seguintes os contactos da Associação Portuguesa de Fertilidade:



Sede - Rua Mestre Albino Moreira, 54 R/C Dto. Frente, 4250-546 Porto



Delegação de Lisboa - Praça S. João Bosco, Nº 22, 7º D, 1350-297 Lisboa



O atendimento ao público carece de marcação prévia, por telefone ou correio electrónico:



Telefone - 96 614 1251, de 2ª a 6ª das 14:00 às 19:00
Email - apf@apfertilidade.org.
Página na Internet - www.apfertilidade.org. »

Fonte: Medicos de Portugal
Link:http://medicosdeportugal.saude.sapo.pt/action/2/cnt_id/2897/?textpage=5

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