quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Custos com gravidezes múltiplas davam para pagar tratamentos de infertilidade, defende especialista


«Estudo feito em três hospitais públicos

25.10.2007 - 15h46 Lusa

Os custos pagos pela sociedade para tratar a gestação múltipla davam para "custear todos os tratamentos de infertilidade e ainda poupar muito dinheiro", afirmou hoje, no Porto, o presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina de Reprodução Assistida.

João Silva Carvalho, um dos oradores da conferência internacional sobre "Usos e representações das tecnologias reprodutivas" realizada pelo Departamento de Sociologia da Faculdade de Letras do Porto, disse ter chegado a essa conclusão através de um estudo sobre custos com cesarianas e cuidados de neonatologia em três hospitais púbicos portugueses.

O estudo, efectuado em parceria com o farmacêutico Vladimito Silva, decorreu durante um ano no Hospital de S. João, no Porto, na Maternidade Byssaia Barreto, em Coimbra, e no Hospital de Santa Maria, em Lisboa.

O especialista entende que "o Estado" devia pagar esses tratamentos, seja por inseminação intra uterina ou por fecundação in vitro, "com a recomendação de que se transferisse, na maioria das vezes, apenas um embrião".

O que acontece actualmente - explica - é que os casais que recorrem à procriação medicamente assistida para terem filhos estão sob "uma enorme pressão porque os tratamentos são muito caros", pois cada tentativa custa "entre três mil e quatro mil euros, além da medicação".

As contas feitas por João Carvalho indicam que "um casal pode gastar quase cinco mil euros" se recorrer a uma clínica privada, enquanto no serviço público "os tratamentos são gratuitos, mas os medicamentos são por conta do casal" e podem chegar aos mil euros.

O custo elevado e a baixa taxa de êxito de cada tratamento, estimada em cerca de 30 por cento, fazem com que o casal tente tudo para que o seu investimento resulte logo à primeira. O médico acaba, assim, por ser também pressionado.

"Qual é a tendência? Em vez de um embrião, o médico introduz dois ou até três embriões, o que deu origem a uma elevada taxa de gémeos e trigémeos", explica João Carvalho, concluindo que "a sociedade paga, assim, uma barbaridade".

Cerca de 25 por cento dos tratamentos de infertilidade por reprodução medicamente assistida provocam gravidezes múltiplas e estas originam bebés "prematuros e com baixo peso", o que, por sua vez, causa "muitos problemas", como surdez, paralisia cerebral ou deficiente desenvolvimento físico e mental.

Em Portugal, calcula-se que cerca de 500.000 casais em idade de procriação, ou seja dez por centro da população, sofram de infertilidade e que 10.000 novos casais por ano tenham problemas de reprodução.»

Fonte: Público
Link: http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1308735

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