"A realidade da fertilização in vitro com recurso a doadores de gâmetas está próxima da ficção cinematográfica, por exemplo, no método de recolha de sémen, mas longe quanto à satisfação de eventuais caprichos dos futuros pais.Escolher o sexo da criança, por exemplo, só é possível por razões de saúde, como nos casos da mutação do cromossoma X que provoca a hemofilia, uma doença transmitida de mães para filhos, mas que apenas afecta os homens.
Quanto a outros "caprichos" - como a escolha da cor dos olhos ou do cabelo - não há qualquer possibilidade de serem satisfeitos, garante Sérgio Reis, director de uma clínica de reprodução humana medicamente assistida em Lisboa.
São, no entanto, respeitadas directrizes de compatibilidade, como o tipo sanguíneo e algumas características físicas, diz o responsável.Assim, casal e doador têm de ter, por exemplo, altura e peso semelhantes, para que os pais possam escolher, ou não, contar à criança, no futuro, a forma como foi concebida. Essa escolha não deve ser "imposta por qualquer estranheza social", diz Sérgio Reis.
Menos longe da ficção científica e cinematográfica estão métodos como a congelação de óvulos por parte de mulheres que querem adiar a maternidade ou que vão ser submetidas a tratamentos contra o cancro, que podem alterar a sua capacidade reprodutiva.
Os primeiros bebés resultantes de óvulos que estiveram congelados na Península Ibérica estão a nascer em Valência, Espanha, mas em Portugal a aplicação da técnica está dependente da sua explicitação na regulamentação da lei da Procriação Medicamente Assistida (PMA), que ainda não foi publicada.Mais dentro da "tradição" está a doação de sémen, colocado pelo doador num copo. Nesta clínica, o processo decorre em duas salas completamente isoladas, com sanitários, e uma televisão para reproduzir filmes pornográficos.
O método de recolha também pode ser feito em casa, mas nesse caso o doador tem de entregar uma declaração de responsabilidade sobre a propriedade do fluido e depositar o mesmo na clínica, no máximo, 40 minutos após a recolha.O anonimato é ponto de honra em todo o processo de doação de gâmetas e de fertilização in vitro.
Duas entradas diferentes para receptores e doadores e a certeza de que não haverá identificação posterior do doador garantem o anonimato e não dissuadem eventuais voluntários, os quais não pretendem ter responsabilidades a médio/longo, explica o director clínico do Instituto Valenciano de Infertilidade (IVI).O responsável descarta também qualquer possibilidade de haver doações entre pessoas conhecidas.
As candidatas a doadoras têm de ter entre 18 e 35 anos, enquanto os homens podem doar sémen entre os 18 e os 50 anos.Há, ainda, um limite para a quantidade de doações de gâmetas por pessoa, valor calculado segundo directrizes internacionais e que têm em conta o tamanho da população, de forma a evitar a consanguinidade inadvertida.
Na lista de exigências aos candidatos a doadores estão ainda a boa saúde física e mental, que são avaliadas através da realização de uma longa lista de exames.Sérgio Reis recusa a ideia da existência de qualquer tipo de comercialização associada a este processo da doação de gâmetas, mas lembra que tem de existir uma compensação económica para os doadores que, defende, deveria ser definida na regulamentação da lei da PMA.
"Há desgaste físico, gastos em transporte e possíveis faltas ao trabalho no caso de doadoras, que têm de receber injecções subcutâneas durante 10 dias. O altruísmo não pode chegar ao ponto de se gastar do próprio dinheiro", sublinhou. A punção dos óvulos é feita através de uma agulha colocada numa sonda de uma ecografia vaginal, com recurso, eventualmente, a anestesia local ou sedação leve.
Com as campanhas publicitárias das clínicas privadas, a doação tem-se vulgarizado, mas os doadores, segundo a experiência de Sérgio Reis, estão geralmente próximos de outros doadores ou de casais com problemas de fertilidade, estando, por isso, mais sensibilizados para a questão.A compensação financeira para doadores é de 750 euros para mulheres e 100 euros para os homens.
Numa clínica privada, uma inseminação intra-uterina custa, em média, 900 a 1.000 euros e uma fecundação in vitro cerca de 4.500 euros. No sector público, os gastos com tratamentos in vitro oscilam entre 600 e 1.500 euros.
A Associação Portuguesa de Infertilidade diz ter informações de que a regulamentação da lei da PMA continuará a não prever comparticipações para tratamentos no sector privado e lamenta que para as seguradoras "a palavra infertilidade seja proibida", como indicou a presidente da API, Cláudia Vieira.Sérgio Reis chama ainda a atenção para alguns problemas psicológicos que têm de enfrentar os casais que recorrem à fertilização in vitro.
Normalmente, estão associados ao prolongamento da situação de infertilidade, mas raramente têm a ver com a consciência de que existe uma terceira pessoa exterior ao casal (o doador) envolvida no processo. A explicação, segundo Sérgio Reis, é simples: em alguns casos esta é a única via para uma gravidez e, por outro lado, os conceitos de maternidade/paternidade são mais latos do que os biológicos.
As estimativas apontam para 10 a 15% de casais inférteis em idade de reprodução nos países industrializados.Um terço dos problemas de infertilidade é de origem masculina, outro terço deve-se a problemas na mulher e uma terceira parte está relacionada com problemas de ambos.
O aumento do número de casos é explicado, sobretudo, pela decisão de adiar a maternidade até idades cada vez mais tardias, embora o estilo de vida urbano das sociedades ocidentais e agentes tóxicos ambientais também contribuam para o crescimento do problema."
Quanto a outros "caprichos" - como a escolha da cor dos olhos ou do cabelo - não há qualquer possibilidade de serem satisfeitos, garante Sérgio Reis, director de uma clínica de reprodução humana medicamente assistida em Lisboa.
São, no entanto, respeitadas directrizes de compatibilidade, como o tipo sanguíneo e algumas características físicas, diz o responsável.Assim, casal e doador têm de ter, por exemplo, altura e peso semelhantes, para que os pais possam escolher, ou não, contar à criança, no futuro, a forma como foi concebida. Essa escolha não deve ser "imposta por qualquer estranheza social", diz Sérgio Reis.
Menos longe da ficção científica e cinematográfica estão métodos como a congelação de óvulos por parte de mulheres que querem adiar a maternidade ou que vão ser submetidas a tratamentos contra o cancro, que podem alterar a sua capacidade reprodutiva.
Os primeiros bebés resultantes de óvulos que estiveram congelados na Península Ibérica estão a nascer em Valência, Espanha, mas em Portugal a aplicação da técnica está dependente da sua explicitação na regulamentação da lei da Procriação Medicamente Assistida (PMA), que ainda não foi publicada.Mais dentro da "tradição" está a doação de sémen, colocado pelo doador num copo. Nesta clínica, o processo decorre em duas salas completamente isoladas, com sanitários, e uma televisão para reproduzir filmes pornográficos.
O método de recolha também pode ser feito em casa, mas nesse caso o doador tem de entregar uma declaração de responsabilidade sobre a propriedade do fluido e depositar o mesmo na clínica, no máximo, 40 minutos após a recolha.O anonimato é ponto de honra em todo o processo de doação de gâmetas e de fertilização in vitro.
Duas entradas diferentes para receptores e doadores e a certeza de que não haverá identificação posterior do doador garantem o anonimato e não dissuadem eventuais voluntários, os quais não pretendem ter responsabilidades a médio/longo, explica o director clínico do Instituto Valenciano de Infertilidade (IVI).O responsável descarta também qualquer possibilidade de haver doações entre pessoas conhecidas.
As candidatas a doadoras têm de ter entre 18 e 35 anos, enquanto os homens podem doar sémen entre os 18 e os 50 anos.Há, ainda, um limite para a quantidade de doações de gâmetas por pessoa, valor calculado segundo directrizes internacionais e que têm em conta o tamanho da população, de forma a evitar a consanguinidade inadvertida.
Na lista de exigências aos candidatos a doadores estão ainda a boa saúde física e mental, que são avaliadas através da realização de uma longa lista de exames.Sérgio Reis recusa a ideia da existência de qualquer tipo de comercialização associada a este processo da doação de gâmetas, mas lembra que tem de existir uma compensação económica para os doadores que, defende, deveria ser definida na regulamentação da lei da PMA.
"Há desgaste físico, gastos em transporte e possíveis faltas ao trabalho no caso de doadoras, que têm de receber injecções subcutâneas durante 10 dias. O altruísmo não pode chegar ao ponto de se gastar do próprio dinheiro", sublinhou. A punção dos óvulos é feita através de uma agulha colocada numa sonda de uma ecografia vaginal, com recurso, eventualmente, a anestesia local ou sedação leve.
Com as campanhas publicitárias das clínicas privadas, a doação tem-se vulgarizado, mas os doadores, segundo a experiência de Sérgio Reis, estão geralmente próximos de outros doadores ou de casais com problemas de fertilidade, estando, por isso, mais sensibilizados para a questão.A compensação financeira para doadores é de 750 euros para mulheres e 100 euros para os homens.
Numa clínica privada, uma inseminação intra-uterina custa, em média, 900 a 1.000 euros e uma fecundação in vitro cerca de 4.500 euros. No sector público, os gastos com tratamentos in vitro oscilam entre 600 e 1.500 euros.
A Associação Portuguesa de Infertilidade diz ter informações de que a regulamentação da lei da PMA continuará a não prever comparticipações para tratamentos no sector privado e lamenta que para as seguradoras "a palavra infertilidade seja proibida", como indicou a presidente da API, Cláudia Vieira.Sérgio Reis chama ainda a atenção para alguns problemas psicológicos que têm de enfrentar os casais que recorrem à fertilização in vitro.
Normalmente, estão associados ao prolongamento da situação de infertilidade, mas raramente têm a ver com a consciência de que existe uma terceira pessoa exterior ao casal (o doador) envolvida no processo. A explicação, segundo Sérgio Reis, é simples: em alguns casos esta é a única via para uma gravidez e, por outro lado, os conceitos de maternidade/paternidade são mais latos do que os biológicos.
As estimativas apontam para 10 a 15% de casais inférteis em idade de reprodução nos países industrializados.Um terço dos problemas de infertilidade é de origem masculina, outro terço deve-se a problemas na mulher e uma terceira parte está relacionada com problemas de ambos.
O aumento do número de casos é explicado, sobretudo, pela decisão de adiar a maternidade até idades cada vez mais tardias, embora o estilo de vida urbano das sociedades ocidentais e agentes tóxicos ambientais também contribuam para o crescimento do problema."
Fonte: Diário dos Açores
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