quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Gravidez: Vómitos sem tréguas


«Náuseas e vómitos severos perturbam a gravidez das mulheres que sofrem de hiperemese gravídica, uma situação clínica severa que pode ameaçar a saúde da mãe e do bebé. E que é alvo de ideias erradas, estigmatizando a grávida e afectando as suas relações.
Os enjoos matinais são quase inevitáveis nas primeiras semanas de gravidez. Acompanhados ou não de vómitos ocasionais, a maioria das mulheres sente-os e, para muitas, são até o primeiro sinal de que uma nova vida se está a gerar. É, no entanto, um mal-estar passageiro, que se ultrapassa com alguns gestos de conforto e que tende a desaparecer à medida que o primeiro trimestre se aproxima do fim.

Todavia, há mulheres - ainda que uma escassa percentagem - para quem os enjoos e os vómitos são tudo menos um mal-estar ocasional e passageiro: constituem um incómodo persistente que as deixa bastante debilitadas. São mulheres que sofrem de hiperemese gravídica.

Além das náuseas e vómitos severos, esta condição é denunciada por perda de peso, aversão aos alimentos, diminuição da quantidade de urina, dores de cabeça, desidratação, icterícia e confusão.

Em consequência, há um desequilíbrio nos fluidos do organismo e no metabolismo, com deficiências nutricionais prejudiciais tanto para a mulher como para o feto.

É, geralmente, entre a quarta e a sexta semana de gestação que a hiperemese gravídica se declara. Algumas mulheres encontram alívio pela 15ª ou 20ª semana, mas outras sofrem este incómodo durante toda a gravidez.

Os enjoos e os vómitos repetem-se ao longo do dia, sem tréguas, impossibilitando a ingestão de alimentos, sejam eles sólidos ou líquidos. Nenhum permanece o tempo suficiente no sistema digestivo para cumprir a sua função nutricional.

O esforço associado a este mal-estar deixa a grávida prostrada, esgotada, ao ponto de ser incapaz de tomar conta de si própria e de desempenhar as tarefas do quotidiano. Os enjoos e vómitos são tão intensos que interferem nas actividades profissionais, acabando por confiná-la a casa. E mesmo aqui limitam-na, deixando-lhe poucas opções para além do repouso.

Esta é uma situação que facilmente abre caminho a estados depressivos e de ansiedade. Mulheres há que se sentem culpadas, receando pôr em causa a vida do bebé: em consequência, podem forçar-se a comer, mesmo sabendo que vão vomitar de seguida, o que agrava ainda mais o impacto psicológico desta doença.

Aliás, em torno da hiperemese gravídica subsistem algumas ideias erradas, nomeadamente a de que este mal-estar extremo significa que o corpo materno está a tentar expulsar o feto. É o desconhecimento que alimenta estas ideias, mas a verdade é que são suficientemente perturbadoras para a própria mulher e para quem a rodeia, podendo afectar, nomeadamente, as relações conjugais.
Um problema complexo

Este não é um problema psicológico, mas sim fisiológico. Para os médicos esta é uma questão que não suscita dúvidas, embora ainda não estejam identificadas as causas. O que se sabe é que não é possível prevenir.

Mas tratar é e quanto antes melhor. Nos quadros mais ligeiros, repouso e alterações na alimentação podem ser suficientes. Mas quando os vómitos são persistentes e impedem uma nutrição adequada pode ser necessário hospitalizar a grávida para administração de fluidos intravenosos.

Desta forma, restauram-se os níveis de líquidos, vitaminas e minerais. A intervenção médica pode ainda envolver a prescrição de medicamentos, nomeadamente anti-eméticos e anti-refluxo (para controlar os vómitos).

Porém, a administração de fármacos requer uma avaliação prévia da relação risco-benefício, uma vez que alguns não são aconselhados e outros são até interditos durante a gravidez. Por razões de segurança, a grávida não deve, pois, tomar a iniciativa de se medicar.

Tratar a hiperemese gravídica pode ser complexo, mas é fundamental actuar precocemente de modo a evitar complicações. É que náuseas e vómitos extremos resultam, com frequência, em desnutrição e malnutrição, mas também podem potenciar danos no sistema digestivo, nomeadamente no fígado. Existe ainda um risco acrescido de parto prematuro, estando a ser estudadas as eventuais consequências para o bebé decorrentes do estado de desnutrição da mãe.

Certo é que, apesar de pouco frequente e pouco conhecida, esta condição existe e tem um impacto individual, familiar e social. A mulher sofre triplamente, a nível físico, psicológico e relacional. Um sofrimento que não é fácil de prevenir, mas que se pode gerir desde que haja uma intervenção atempada. Para uma gravidez o mais confortável e tranquila possível.

Há mal-estar e há hiperemese...
O mal-estar matinal associado à gravidez e a hiperemese gravídica têm em comum as náuseas e os vómitos. Mas são as únicas semelhanças, porque se trata de condições com uma gravidade bastante diferente:

• As náuseas matinais apenas ocasionalmente são acompanhadas de vómitos, mas as da hiperemese desencadeiam vómitos quase automáticos e severos;

• No mal-estar matinal, as náuseas desaparecem pelo primeiro trimestre, na hipemerese mantêm-se até ao fim;

• Os vómitos da hiperemese causam desidratação, os do mal-estar matinal não;

• Os vómitos do mal-estar matinal não impedem a ingestão de alimentos, mas na hiperemese há o risco de desnutrição por não se conseguir manter a comida no estômago.»

Fonte: Médicos de Portugal
Link:http://medicosdeportugal.saude.sapo.pt/action/2/cnt_id/2851/?textpage=2

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