terça-feira, 11 de setembro de 2007

Mães competitivas


«Entrevista com a escritora de "Momzillas", Jill Kargman

Juliana Diniz

A bela escritora americana Jill Kargman faz uma crônica sobre as mães modernas e elitizadas que transformam a maternidade no mais novo campo de competição, no livro "Momzillas", ainda sem previsão de lançamento no Brasil. Assim como disputava promoções no trabalho, essa mistura de mãe com Godzilla deseja a atenção nas festinhas das crianças, quer que os filhos aprendam chinês aos 4 anos de idade e luta contra o fantasma de uma mãe melhor do que ela. Criada em Manhattan, onde mora com o marido e duas filhas, Jill sabe bem o que diz.

Qual a origem do termo "Momzillas"?

Uma Momzilla é uma mãe à la Godzilla. Em geral, ela tem um perfil psicológico do tipo A: é uma mulher extremamente competitiva que deve fazer o que estiver ao seu alcance para ser a melhor mãe da face da Terra e controla a escola para ter o filho mais esperto e a vida perfeita a qualquer custo. É uma mulher muito inteligente, de educação elitizada, com uma carreira em incrível ascensão e deixa o emprego repentinamente. Então toda a ambição e vontade que ela tinha de ser a melhor são redirecionadas para o ambiente familiar. Algumas mulheres abandonam o trabalho e se sentem orgulhosas. Outras, lá no fundo, precisavam de uma promoção ou de um escritório maior e, quando deixam o emprego, perdem o senso de desafio. Então essa mulher cria uma hierarquia para escalar na maternidade. Dependendo de onde ela vive, as medidas de comparação mudam. Quantas línguas a criança vai falar (hoje em dia, mandarim é comum para crianças de dois anos de idade, já que é proclamada pelos bambambãs dos negócios uma tendência para o futuro)? Qual escola eles vão freqüentar? Mas, em geral, uma Momzilla julga as outras crianças e tem uma preocupação feroz sobre como fazer com que seu filho vença o jogo da vida.

A momzilla é uma mulher bem-sucedida no trabalho que deseja esse sucesso em outros campos. Ela busca a perfeição também na aparência?

Hoje em dia, nos EUA, todo mundo está obcecado com revistas de celebridades. Vemos todas aquelas atrizes, que são magrelas, exibindo barrigas quase imperceptíveis na gravidez. E há uma pressão crescente para parecer e se sentir maravilhosa, nunca admitir a fraqueza ou o cansaço, enfim, para refletir a perfeição. Uma "momzilla" quer ser a mãe mais bonita e sexy. Na minha primeira gravidez, comecei a reparar nas "momzillas" do meu bairro. Vi como elas vigiavam cada caloria que comiam e se vestiam na última moda mesmo prestes a dar à luz. Eu ficava intrigada e assustada ao imaginar que a maternidade em 10021 teria algo daquelas mães caricaturais. Eu sentia que elas viam os próprios filhos como extensões delas mesmas e de suas realizações.

Em que outras situações a competição está presente na vida delas?
Estou convencida de que, não importa aonde você vá, vai haver mães competitivas, só muda o barômetro. Algumas mães vão encarar uma peça de teatro da escolinha ou um jogo de futebol como uma disputa. Hannah, a "momzilla" do livro, fantasia que no Alasca uma mãe esquimó percebe que outra mãe costura pele de foca melhor do que ela; uma mãe vai ter sempre um iglu maior ou um trenó mais rápido do que o dela. Eu até dou risada com meu marido imaginando se no tempo das cavernas corria a fofoca de que uma mãe fazia o melhor carneiro assado da região. É a natureza humana. Está em todos os lugares. Só que em Nova York, onde se passa a história, a dimensão dessa competição é muito maior.

Uma "momzilla" transforma seu filho em um fantoche e tenta se realizar através dele. Por que ela age dessa forma?
Acho que as mães que usam seus filhos como acessórios estão, na verdade, enfrentando uma crise com a própria identidade. Quem elas são como pessoa tem sido classificado pela maternidade e, por isso, elas estão desesperadas por recriar a escalada que existia na vida profissional delas, um ranking para vencerem por ter os filhos mais bonitos, o corpo mais magro pós-maternidade, mandar as crianças para a melhor escola, etc. Elas agem assim para tentar e conseguir prêmios palpáveis que possam carregar e que as façam se sentir melhores sobre si mesmas. Já que a maternidade não tem prêmios como o Oscar, as "momzillas" precisam criar suas próprias premiações e competem em tudo, desde como cuidam das crianças até quantos idiomas os pequenos falam.

Você acha que as "momzillas" são uma tendência? Como podemos evitá-la?
Sim, elas são uma tendência porque existe tanta prosperidade agora que as mães não poupam despesas para os filhos serem os melhores. Mais e mais mulheres podem e optam por trabalhar, então a escolha de deixar um cargo de sucesso para ficar em casa está ainda mais difícil nos dias de hoje. Isso gera mães ambiciosas que canalizam suas aspirações comuns do trabalho para subir na vida através dos filhos. Financeiramente, não posso pagar por uma ajuda 24 horas por dia 7 dias por semana, mas mesmo se pudesse, não optaria por isso. A mae precisa conhecer seu filho. Em nova York, é fácil contratar alguém para substituí-la nos momentos mais importantes como dar banho e levar ao parquinho. Sim, eu também tenho olheiras, tenho sono o dia todo e me sinto com preguiça, mas sei que é melhor do que ter alguma outra pessoa fazendo o trabalho pesado. Como disse no livro, minha amiga Lauren me ensinou: "pague agora ou pague depois". Não se prenda ao que os outros dizem que você deveria fazer. Se você não quer se tornar uma "momzilla", confie nos seus instintos. Se aulas de mandarim ou aulas de informática não parecem muito adequadas para seu filho de 3 anos de idade, desista da idéia. E parece óbvio mas passe mais tempo com as crianças! Elas só serão pequenas uma vez na vida e você aprenderá bastante as vendo agir. Algumas "momzillas" arriscam um estilo despojado, mas não conseguem se sentar como índios com seus saltos altos e adereços na moda e nunca conseguem participar. Isso é péssimo! Acho que se você se faz presente, cantando ou fazendo graça com as crianças, cria um laço. O que estou dizendo parece senso comum e não uma revelação, mas é de se surpreender como isso muitas vezes não acontece.»

Fonte: Claudia
Link: http://claudia.abril.com.br/edicoes/552/aberto/atualidades_gente/conteudo_249673.shtml?pagin=2

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