«Em meio a tantas dúvidas sobre ser pai, desponta uma certeza: é preciso sempre tentar e não se encerrar na preocupação demasiada de delinear as fronteiras entre o certo e o errado. Essa é uma das contribuições oferecidas pela psicóloga Maria Helena do Espírito Santo Coelho nesta entrevista. Ela trata também, nesse Dia dos Pais, de questões como a importância dos papéis atribuídos ao pai e à mãe.
Maria Helena tem formação em Psicologia Psicanalítica e especialização em Terapia Clínica. Em 2005, defendeu a dissertação de mestrado sobre as relações entre pais e filhos. Como professora universitária, ela trabalha com a disciplina Psicologia da Família.
Midiamax: Como se explica as mudanças nas famílias contemporâneas?
Maria Helena: As mudanças que ocorrem nas famílias são reflexos das mudanças sociais, tecnológicas, pelas quais passa a sociedade ocidental. A família é uma unidade social. Tudo o que acontece na sociedade tem reflexo na família.
Midiamax: Que transformações são essas?
Maria Helena: Uma das transformações mais importantes é a velocidade dos eventos. Somos seres humanos e, portanto, susceptíveis de adaptações. Precisamos de um tempo para nos adaptar, mas a velocidade das transformações está além de nossa capacidade de reflexão. As pessoas fazem as atuações sem pensar, sem refletir sobre elas. A geração mais nova tem outra dimensão do tempo. As pessoas dessa geração não sentem, da mesma forma, toda essa rapidez, porque já nascem nessa rapidez.
Midiamax: E quais os papéis dos pais nesse novo contexto? Há diferenças entre os papéis dos pais e das mães?
Maria Helena: Sim. E esses papéis são definidos biologicamente. No caso da mãe, o papel é o da maternagem. Mas essa função não é, necessariamente, exercida pela mãe, mas pode ser exercida por outra pessoa qualquer. Esse papel de maternagem envolve proteção, simbiose, alimentação...
Midiamax: E qual é o papel do pai?
Maria Helena: O pai tem a função de quebrar o paraíso simbiótico e trazer a noção de realidade. O pai apresenta o mundo para o filho. A simbiose é continuar no útero e o papel do pai é quebrar essa relação. É a função de frustrar a criança. É mostrar que o mundo não é tão bonitinho. É mostrar que existe o “não”. É importante dizer que essas funções não são sempre exercidas, distintamente, pelo pai e pela mãe. Por exemplo, tem pais que são mais maternais que as mães.
Midiamax: Em que sentido a inexistência de uma dessas funções pode afetar a criança?
Maria Helena: As crianças precisam de modelos. Se elas têm duas pessoas, com papéis definidos, para poderem se apoiar, tornam-se mais ricas, a intensidade das relações é maior. Na falta de um desses modelos, as crianças acabam substituindo. A figura do pai pode ser buscada num avô ou num tio e a da mãe, numa avó, numa tia, por exemplo.
Midiamax: Como poderia agir um pai que cuida sozinho de seus filhos?
Maria Helena: Não há receitas. A questão é se colocar no lugar da criança, é se ver no lugar do outro. O pai deve conhecer o que o filho gosta, suas necessidades. Conhecer as necessidades não significa fazer tudo que o filho quer, mas significa também frustrá-lo.
Midiamax: Que conseqüências podem ser geradas pela falta das funções da maternagem e da frustração?
Maria Helena: Quando o núcleo familiar não soluciona as necessidades da criança, ela vai buscar soluções no social. A sociedade recebe o ônus. Por exemplo, as crianças sem limites podem se tornar violentas. A sociedade vai pagar por isso. É interessante sempre ter em mente que nós somos macacos. Não podemos nos esquecer disso. Nós somos seres violentos. Não nascemos somos todos ajeitadinhos para usar computadores. A humanização é um processo. Não nascemos seres humanos. Nós nos tornamos seres humanos.
Midiamax: Que mensagem a senhora pode deixar para os pais?
Maria Helena: Eu lhes diria: Pais não fiquem tão preocupados em acertar e errar. A preocupação intensa gera insegurança. E isso é pior que errar. A criança precisa se sentir segura. Ela tem necessidade de conhecer o mundo através de quem lhe passa segurança desse conhecimento. A questão é tentar ser bom pai – o pai deve estar sempre tentando. »
Fonte:Midiamax
Link:http://www.midiamax.com/view.php?mat_id=338093
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