«Há muitos anos que se conhece os sintomas causadores de perturbações psicológicas e psiquiátricas em mulheres logo após o parto. Estas alterações no aspecto emocional vão desde uma insegurança na capacidade de arcar com os deveres da maternidade, medo de enfrentar cuidados com o recém-nascido até a depressão severa -- com rejeição pelo bebê. Em recente estudo publicado pela Universidade de São Paulo verificou-se que, em hospitais públicos, a depressão pós-parto atingia cerca de 35% das mulheres, enquanto em hospitais particulares apenas 7% das mulheres tinha este tipo de alteração psicológica.
A média internacional de depressão pós-parto é de 10 a 15% das mulheres na fase puerperal (no período de semanas após o parto). O fato de encontrar-se tão alto índice em hospitais públicos parece estar ligado a vários fatores - uma gravidez não programada e às vezes não desejada, a ausência do pai da criança, falta de apoio da família, inexistência de estrutura doméstica adequada, e o medo de arcar sozinha com todos os pequenos e grandes problemas da maternidade. Juntando todos estes fatores a mãe se vê desamparada, física e psicologicamente.
A criança também sofre a depressão materna
A rejeição da criança pela mãe é um fato importante e freqüente. Muitas mães com depressão pós-parto amamentam a criança chorando continuamente. A criança sente este sentimento materno, torna-se insegura, menos querida, talvez rejeitada e o conjunto destes sintomas podem trazer conseqüências para o desenvolvimento neuro-psicomotor do bebê. Tais alterações podem refletir na fase futura da criança, com problemas afetivos identificáveis, e muitas vezes, necessitando de intervenção médica.
Os sintomas maternos são de amplitude e grau diversos. Predomina a tristeza, a falta de vontade para cuidar do bebê, muitas vezes ocorre insônia, o choro é freqüente e há sensação de abandono. É importante saber que neste momento a intervenção médica se impõe através de uso de medicamentos.
A tireoidite é comum na depressão pós-parto
Muitas mulheres apresentam disfunções da tireóide logo após o parto. Estas doenças da tireóide são do tipo auto-imunitário, isto é, o sistema imunitário da mulher deixa de reconhecer a glândula tireóide como parte do seu corpo. O corpo a entende como "um tecido transplantado". Nestas circunstâncias, fisiologicamente erradas, o sistema imunitário lança anticorpos contra a tireóide, provocando uma inflamação - tireoidite pós-parto.
O fato de ser na fase logo após ou algumas semanas após o nascimento da criança tem uma explicação. Sabemos que, durante a gravidez, o sistema imunitário materno "baixa" a sua agressividade ao mínimo. Esta diminuição ocorre para que não haja a possibilidade da mãe produzir anticorpos contra a criança. Logo após o parto, o sistema imunitário "acorda" e passa a ser mais agressivo. A tireóide é, freqüentemente, "atacada" por nesta fase (e mesmo até 6 - 10 semanas após o parto).
A tireoidite pós-parto se associa com depressão
A tireoidite pós-parto atinge de 7 a 14% das parturientes, principalmente as que têm história familiar de moléstia de tireoidite na família, já tiveram anticorpos anti- tireóide na fase pré-gravídica, apresentam alterações do volume de tireóide ou que têm genética para doenças tireóideas. Inicia-se, geralmente, por aumento do volume da tireóide (na região cervical anterior) com ou sem sensação dolorosa, pode ter um período de excesso de hormônios tireóideos na circulação, mas mais freqüentemente evolui pela "falta" de hormônios na circulação.
Tal fenômeno é chamado de hipotireoidismo. Os clínicos que detectaram este tipo de doença pós-parto notaram que o hipotireoidismo naturalmente já predispõe a mãe a ser mais quieta, menos comunicante, com menor atividade física, sonolenta, com baixo metabolismo, queda de cabelos, pele seca e áspera, unhas quebradiças. Notaram, também, que a falta de função de tireóide, pela tireoidite pós-parto, pode levar à depressão. Existe conexão entre a falta de função da tireóide e o baixo metabolismo da área cortical. Tal fato, talvez, explique, porque a puérpera com hipotireoidismo possa ser mais facilmente acometida por depressão pós-parto.
Justifica-se, portanto, que o clínico ou psiquiatra que examina a paciente depressiva pós-parto, devem estar atentos não só sob o ponto de vista de medicação antidepressiva, mas também para eventual confirmação do diagnóstico de hipotireoidismo, introduzindo a L-tiroxina para a correção do estado de baixo metabolismo e falta generalizada do importante hormônio da tireóide. A maioria das pacientes apresenta cura da tireoidite pós-parto, mas cerca de 40-50% pode evoluir para tireoidite crônica.»
Fonte:Veja Abril
Link:http://veja.abril.com.br/blog/nutricao-homo-obesus/133505_comentario.shtml
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
Depressão pós-parto e tireoidite
Postado por Paulo Pires às 12/09/2008 09:00:00 da manhã
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