
«Recomendação é sempre consultar um médico.
Mas na maioria dos casos o problema não é grave.
O bebê não parecia doente, deitado nos braços de sua mãe e         olhando ao redor do quarto da clínica. Ele não estava chorando         de forma inconsolável, não estava fraco ou apático. Mas sua mãe         havia dito à enfermeira que ele parecia inquieto e não estava         mamando tão vigorosamente quanto o normal. E estava quente.         Então a enfermeira tirou sua temperatura: cerca de 38 graus         Celsius, pouco menos de dois graus acima do normal.
     
       Os pediatras precisam freqüentemente acalmar os         pais quando um bebê ou criança pequena tem febre alta. Sim,         dizemos, sua filha está com 39,5, mas ela parece bem;         provavelmente é apenas um vírus. Não há necessidade de         antibióticos, não é preciso nada exceto líquidos e um remédio         comum como acetaminofeno ou ibuprofeno.
     
       Mas neste robusto menino, com menos de dois meses         de idade, 38 era motivo de preocupação.
     
       Recém-nascidos não lidam muito bem com uma         infecção. Seus sistemas imunológicos imaturos os deixam         vulneráveis a graves infecções que podem sair do controle. Nos         piores casos, bactérias entram na corrente sanguínea de uma         infecção urinária ou de pele, por exemplo, e causar sepsia         bacteriana. Ou pior, as bactérias escapam da corrente sanguínea         pela barreira que deveria separar sangue e cérebro, causando         meningite. Portanto, se ocorrer febre num bebê muito jovem, o         conselho aos pais é sempre chamar imediatamente o médico. Mas         quase dois meses de idade já não é um recém-nascido.
     
       Vinte anos atrás, quando eu estava em treinamento         pediátrico, a definição de “muito jovem” era abaixo de três         meses. Para qualquer febre nessa faixa etária, coletávamos         amostras de sangue, urina e fluido espinhal e as enviávamos para         a cultura de bactérias. Enquanto esperávamos os resultados, o         bebê ficava no hospital, sendo tratado com antibióticos         intravenosos.
     
       Mas, na maioria dos casos, o tratamento agressivo         era desnecessário, porque as culturas não desenvolviam nenhuma         bactéria. Felizmente, houve ótimas pesquisas epidemiológicas nos         últimos anos para ajudar a prever quais bebês realmente precisam         ser hospitalizados.
     
       Hoje em dia, um bebê com menos de 1 mês que         desenvolve qualquer febre ainda tende a terminar no hospital.         Para bebês com mais de 3 meses, usamos nosso julgamento clínico:         se parecem bem, podemos solicitar um exame de sangue ou urina,         mas eles podem ir para casa – contanto que fiquemos em contato         com os pais.
     
       Entre 1 e 3 meses ainda é a zona cinza. E neste         caso, havia alguns outros tons sutis de cinza, especialmente a         perturbação e a relutância em mamar: afinal de contas, um bebê         com uma infecção séria tem um repertório limitado de sinais para         dizer, “Ei, mamãe, algo está errado.”
     
       A sua temperatura realmente constituía uma febre?         Enquanto isso acontecia, estávamos no limite para a febre “real”         – 38 graus Celsius, ou 100,4 Fahrenheit.
         O que fazer?       
     
       Então tínhamos a idade bem no limite, a febre bem         no limite, e a história bem no limite. Estas eram as opções do         médico:
     
       A. Examinar o bebê cuidadosamente, e se ele         parecer bem e a temperatura não estiver aumentando e a mãe         parecer confortável e competente, enviar os dois para casa e         pedir que a mãe o observe com cuidado.
       
       B. Pedir um exame de sangue para análise de         infecções sérias, e talvez um exame de urina para assegurar-se         de que não há evidências de infecção urinária. Se não houver         evidências de infecções nesses testes relativamente rápidos,         proceder com A.
       
       C. Enviar sangue e urina para a cultura de         infecções por bactérias, que levará dois dias. Mandar o bebê         para casa, mas considerar a prescrição de antibióticos para “cobri-lo”.
       
       D. Se o bebê parece doente, enviá-lo para a sala         de emergência para uma punção lombar e um tratamento completo de         sepsia, e admiti-lo no hospital para antibióticos intravenosos         enquanto espera algum resultado das culturas de bactérias.
     
       Cada uma dessas atitudes teria sido razoável,         defensável e explicável.
     
       “Os pediatras lutam de verdade com esse assunto”,         disse William V. Raszka, professor de pediatria na Faculdade de         Medicina da Universidade de Vermont e diretor do Serviço         Pediátrico de Doenças Infecciosas no Hospital Infantil de         Vermont. Ele acrescentou que “existe uma quantidade tremenda de         dados conflitantes” a respeito de quais bebês precisam de quais         testes e tratamentos.
     
       “A incidência de doenças graves por bactérias em         crianças que parecem bem entre 1 e 3 meses de idade é muito,         muito baixa” contanto que o exame de urina seja negativo, disse         Raszka. Mas por outro lado, se o bebê não está inteiramente bem,         “se a mãe está certa de que este não é o normal da criança, eu         seria mais agressivo ao tratar do bebê”.
     
       Neste caso, o bebê parecia bastante bem. Sua febre         não estava aumentando; sua paciente mãe estava dando de mamar, e         ele estava mamando, enquanto seu menos paciente irmão demolia a         sala de exames. Ele provavelmente não tinha uma infecção séria         por bactérias.
     
       Nós conferimos o exame de sangue – nada anormal –         e coletamos um pouco de urina para a cultura. Mas a mãe         continuava achando que o bebê não estava muito como “ele mesmo.”         Eu não conseguia achar nada de errado em seus exames, mas ela o         conhecia melhor. E como tive meu treinamento pediátrico em         tempos onde ele seria automaticamente admitido no hospital,         provavelmente sou mais conservadora que os médicos mais jovens.
     
       No fim, lhe demos uma dose de antibióticos, suas         culturas foram para o laboratório, e sua mãe e ele voltaram para         casa com um termômetro. No dia seguinte ele era “ele mesmo” de         novo, segundo sua mãe – menos inquieto, mais alerta e alegre,         mamando normalmente. Nada cresceu em suas culturas. Talvez tenha         contraído uma leve doença viral, que causou a febre e a         inquietação, e ele a expulsou.
     
       De certo ponto de vista, ele teve falta de sorte:         estava exatamente nos limites de temperatura e idade. E de outro         ponto de vista, foi um felizardo: 20 anos atrás, ele teria         enfrentado três dias no hospital.
     
       Em qualquer um dos casos, da próxima vez em que         chegar à clínica com febre, espero, ele estará fora da zona         cinza, fora da idade de alto risco, e poderemos nos concentrar         no tratamento de uma infecção, caso encontremos uma, e assegurar         à mãe que a febre por si só não é nada preocupante.»
Fonte:G1
Link:http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL871077-5603,00-FEBRE+EM+BEBES+ASSUSTA+MAS+NEM+SEMPRE+E+SINAL+DE+PROBLEMAS+SERIOS.html
 


 

Sem comentários:
Enviar um comentário