sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Apoio na gravidez e após parto evita abandono nos hospitais


«RITA CARVALHO
Acolhimento. Há recém-nascidos que ficam nos hospitais à espera de um lugar numa instituição
No ano passado, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, seis mulheres quiserem abandonar os filhos na altura do parto. Duas acabaram por sair da maternidade deixando o bebé para trás, mas as outras quatro, apoiadas pelos serviços sociais, reuniram condições para levar as crianças para casa. Um acompanhamento que devia ser generalizado e alargado ao período da gravidez, dizem os peritos.

Segundo Luís Vilas Boas, director do Refúgio Aboim Ascensão, só o acompanhamento das grávidas de risco diminuirá o número de mães que abandonam os filhos e evitará situações como a de Mirandela.

Vilas Boas defende, por isso, a criação urgente de um "serviço nacional de emergência infantil". Uma rede de acompanhamento a grávidas de risco e de acolhimento de crianças rejeitadas pelas mães. Com a concretização desta rede, as crianças abandonadas à nascença também não teriam de ficar semanas no hospital à espera de um lugar numa instituição de acolhimento, de onde são depois encaminhadas para adopção.

Os casos de abandono de recém-nascidos na via pública são pontuais mas Vilas Boas acredita que muitos poderiam ser evitados se estas gravidezes de risco fossem acompanhadas. "Vemos crianças grávidas de outras crianças. Deviam ser seguidas antes e até depois de terem os bebés, em casa, pelas assistentes sociais", afirma, referindo as grávidas com problemas de droga e prostituição. É nos hospitais que a maioria das mulheres abandonam os filhos. Muitas informam os profissionais de saúde logo antes do parto, avisando que não querem ver os bebés e que assinarão o consentimento para adopção assim que for possível. Por lei, tal só pode ser feito seis semanas após o nascimento, mesmo que essa intenção seja expressa na altura do parto e a criança possa ser logo encaminhada. Mas, diz Vilas Boas, devido à "falta de agilidade técnica entre instituições", muitos bebés que podiam ser encaminhados para um centro de acolhimento assim que têm alta clínica, ficam duas ou três semanas nos hospitais à espera de vaga.

Jorge Branco, director da Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, diz que a entrega para adopção é frequente e que os casos são encaminhados para a Santa Casa da Misericórdia, podendo demorar até três semanas a serem resolvidos. Os abandonos à porta da maternidade são hoje muito raros.

Não são as carências económicas que explicam o abandono, diz Conceição Patrício, directora do Serviço Social do Santa Maria. "É muito mais uma questão cultural. São mulheres que não querem ter os filhos e, ao dá-los para adopção, até referem que ficam contentes por poderem fazer outros casais felizes". E, acrescenta, "a nós não nos cabe julgar, mas ajudar".»

Fonte:DN
Link:http://dn.sapo.pt/2009/01/03/sociedade/apoio_gravidez_e_apos_parto_evita_ab.html

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