quinta-feira, 24 de abril de 2008

"Educar é dar bons exemplos” diz o psicólogo Eduardo de Sá


«O auditório da Universidade Católica recebeu no dia 4 de Abril o psicólogo e escritor Eduardo Sá para uma conversa sobre educação e psico-pedagogia, promovido pelo Gabinae e inserido no seu novo projecto “Escola de pais e avós”.

Numa sala com mais de 200 pessoas, o orador defendeu que o mais importante na forma como se educa é dar bons exemplos. Para este psicólogo, “os pais e professores educam com bons exemplos e não com bons conselhos”.

A tarefa de educar, que “não é difícil”, obedece a três regras: dar colo o mais possível, o que pode implicar ter de o pedir, definir um q.b. de autoridade e dar autonomia aos filhos, já que não se deve fazer por eles aquilo que são capazes de fazer sozinhos.

A autoridade é fulcral para o desenvolvimento das crianças, embora muitos pais tenham receio de dizer “não” com medo de as traumatizar. Eduardo Sá assegura que a ausência desta palavra “é derrapante, uma vez que as crianças começam por se sentir príncipes e rapidamente se tornam em tiranos”. Segundo este psicólogo, o receio dos pais em contrariar os filhos tem que ver com a forma autoritária como foram educados. No entanto, dizer que “não” tem de fazer parte da educação e fazê-lo não implica ter de explicar a negação até à exaustão “porque isso transparece para as crianças a sensação de dúvida e os miúdos sabem sempre o porquê de não poderem fazer algo, desde que tenham bons exemplos”.

No papel de educar uma criança os avós são fundamentais porque são eles que muitas vezes ficam com os pequenos enquanto os pais vão trabalhar. Apesar de se acreditar que “os avós estragam os netos”, Eduardo Sá não concorda com esta teoria, já que entre estas gerações estabelece-se uma organização que apenas parece inexistente quando os pais estão presentes, porque os filhos portam-se mal, para testarem a sua autoridade.

Eduardo Sá assegurou, inclusive, que “as birras são saudáveis”. O que o preocupa “são as crianças que tratam os pais com delicadeza porque isso significa que os temem”.

O psicólogo disse ainda que “devia ser proibido entrar nas universidades a quem nunca tirou uma negativa num teste pois todas as crianças precisam de ser confrontadas com problemas e ter decepções porque isso faz parte da vida”.

Numa conversa descontraída, o psicólogo criticou as regras de incentivo à natalidade quando as condições de vida não são iguais para todos e obrigam a que os bebés sejam colocados muito cedo em berçários. “Só aos três ou quatro anos, é que as crianças deviam ir para as creches pois até essa altura deveriam poder usufruir do espaço da família”, defendeu.


“As aulas de 90 minutos são um erro”

Na escola, as aulas de 90 minutos e as actividades de enriquecimento curricular vieram aumentar o tempo que os alunos passam fechados nos estabelecimentos escolares sem poderem brincar. Eduardo Sá lembrou o quanto esta realidade é prejudicial, já que “mais escola não significa melhor escola”, dando como exemplo alguns países onde as aulas começam de manhã e terminam à hora de almoço e os alunos têm melhores resultados.

“As aulas de 90 minutos são um erro, ninguém se consegue manter concentrado durante tanto tempo, muito menos uma criança”, referiu, criticando a hora tardia a que a os mais novos chegam a casa e ainda com trabalhos para fazer.

A política do Ministério da Educação leva na maioria das vezes a resultados escolares negativos, com consequências irreparáveis na vida das crianças. Perante esta situação, os pais devem incentivar os filhos, em vez de os castigarem, já que “as crianças são as primeiras a quererem ter boas notas. Se os vamos castigar só vamos conseguir que se assustem e que já vão para os testes com medo”, disse Eduardo Sá.

Também presente nesta sessão, o vereador da educação, Tinta Ferreira, criticou o governo por querer criar uma escola a tempo inteiro sem auxiliares de educação educativa, que são colocados pelo Ministério da Educação, e que obrigam as crianças a terem um tempo para brincar reduzido, já que não há vigilância nos recreios.

A terminar a sua intervenção Eduardo Sá lembrou as recentes declarações do Procurador Geral da República que admitia que havia crianças que iam com armas para as escolas criticando o facto deste não ter dito o que tencionava fazer quanto a esta situação. “O que está em causa são os pais. Estas crianças devem ser protegidas das suas famílias e não das escolas. Quando um pai dá uma arma a um filho deve ser inibido de estar com ele”, defendeu.

Reportando-se ao caso “Carolina Michaelis”, Eduardo Sá admitiu que os alunos possam ser insolentes com os professores, como forma de testar a sua autoridade e avaliar se são justos. No entanto, realçou que nunca a insolência deve ser confundida com falta de educação, uma vez que “um professor é um bem de primeira necessidade e deve ser tratado com respeito desde que se dê ao respeito”, disse, lembrando que se assim não for estamos a falar de jovens delinquentes que atentam contra o direito à educação dos outros.

Antes do debate final, em que o público pôde questionar Eduardo Sá sobre algumas problemáticas relacionadas com as crianças, o psicólogo lembrou que errar na educação de um filho faz parte e que “só as pessoas que erram podem aprender pois a sabedoria resulta da experiência da vida”.

A iniciativa terminou com uma sessão de autógrafos, em que a plateia pôde comprar e autografar alguns dos livros publicados pelo convidado da sessão, como “Más maneiras de sermos bons pais”, “A Vida não se aprende nos livros”, ou Tudo o que o Amor não é”.

Ana Elisa Sousa»

Fonte:Gazeta das Caldas
Link:http://www.gazetacaldas.com/Desenvol.asp?NID=21496

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