segunda-feira, 2 de junho de 2008

A importância de partilhar a luta para ter um filho


«Maria Pereira casou aos 26 anos e começou a tentar engravidar pouco tempo depois. "Eu e o meu marido somos filhos únicos e queríamos uma família grande. Passei mais de um ano sem conseguir até ir à minha médica de família e, só ao fim de quatro anos, fui encaminhada para a consulta da Maternidade Alfredo da Costa", em Lisboa. Hoje, reconhece que, no início, andou "perdida".

O percurso durou nove longos anos até ao nascimento do João Diniz, em 2005. Essa falta de acompanhamento fez com que se juntasse à Associação Portuguesa de Infertilidade, criada em Maio de 2006, para ajudar os casais inférteis.

"Costumava falar com outras pessoas com o mesmo problema num fórum da internet e percebemos que não existia uma associação de doentes quando problema afecta cerca de 500 mil casais." A doença afecta um milhão de portugueses mas é quase invisível.

Para mudar esta situação, a Associação criou um site onde tenta juntar toda a informação útil, e um fórum, que já tem mais de 3500 utilizadores e 170 mil mensagens. Através do fórum, é fácil chegar a vários blogues que têm como tema o desejo de ter um filho.

"Sonho ter um filho"

Susana Pina criou o blogue "Sonho ter um filho" há dois anos, depois de 16 a lutar contra a infertilidade. "Vivi mais de uma década sem falar praticamente com ninguém sobre este problema. Mesmo na sala de espera das consultas, e fui a muitas, as pessoas não falavam umas com as outras", conta. "Nem sequer tinha acesso a informação. Nesse aspecto a internet foi uma benção. Depois de ter engravidado e perdido as bebés senti necessidade de falar e foi por isso que criei o blogue."

Anna Pires, outra das fundadoras da Associação, conta que os blogues sobre a infertilidade são um fenómeno a nível internacional. Alguns, já se transformaram em livros. "Acaba por ser uma espécie de diário. Além de ser um escape fantástico, é a forma das pessoas seguirem o tratamento uma das outras." Para Susana, foi a melhor coisa que lhe "podia ter acontecido". "A resposta tem sido extraordinária. Mesmo que nunca consiga ter um bebé, sinto que ajudei muita gente."

Dar a cara

Há cerca de um ano, as fundadoras da Associação sentiram que havia a necessidade de saltar do mundo virtual para o real e dar a cara, uma coisa que nem sempre é fácil porque a infertilidade ainda é uma doença "muito escondida", explica Anna. Foi assim que nasceram os grupos de apoio. A primeira experiência foi em Braga e os resultados foram encorajadores.

Anna Pires, que agora é a coordenada nacional dos Grupos, juntou-se com a psicóloga Matilde Catalão para elaborar um manual de princípios, fizeram um workshop para as interessadas e agora já existem cinco a funcionar. Os grupos são coordenados por pessoas que tenham um historial de infertilidade, ou seja, não são grupos terapêuticos, são para trocar informação e partilhar experiências. "Tem sido absolutamente fantástico. Os grupos tornaram-se um oásis no deserto da infertilidade," diz Anna.

Maria Pereira é uma das coordenadoras do grupo de Lisboa. "Às vezes as pessoas choram, outras vezes rimos." Apesar das mulheres estarem em maioria, algumas trazem os maridos. "Há ideia que a infertilidade afasta o casal, mas às vezes aproxima, porque há um objectivo comum. Mas os homens falam menos, isso não há dúvida." Quando o grupo começou a funcionar, o filho de Maria, João já tinha quase três anos. Nasceu em 2005, depois de nove anos de tentativas, tratamentos no privado e no público. Agora, Maria tem 38 anos e corre contra o tempo para dar um irmão ao João Diniz.»

Fonte:Diário de Notícias
Link:http://dn.sapo.pt/2008/06/01/sociedade/a_importancia_partilhar_a_luta_para_.html

1 comentário:

Olinda Dinis disse...

A associação é realmente um grande apoio para quem tem dificuldades, encontram-se lá muitos casos de sucesso que dão esperança ás mulheres que ainda não conseguiram.
Tenho que agradecer ás fundadoras e a todos que colaboram!