sexta-feira, 20 de março de 2009

Falta de médicos ameaça centros de infertilidade


«DIANA MENDES
Tratamento. Cinco novos locais não devem arrancar tão cedo como se previa

Há apenas algumas dezenas de especialistas nesta área no País

Portugal não tem médicos suficientes para tratar casais inférteis, especialmente com técnicas de procriação medicamente assistida (PMA). A escassez de recursos pode pôr em causa a qualidade do tratamento e atrasar a abertura de mais cinco centros públicos anunciados pelo Governo, referem vários especialistas.

João Silva Carvalho, presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução, alerta para a falta de especialistas em medicina da reprodução. Por isso, diz que "não faz sentido haver uma rede de mais de 30 centros de PMA num país tão pequeno. Para além de estes centros não irem receber número de casos suficientes, "o que nem sequer será rentável depois dos investimentos feitos, põe-se em causa a qualidade dos recursos humanos. Ou se terá de abrir o tratamento a pessoas menos especializadas, ou pura e simplesmente não teremos recursos para tratar os casais inférteis", frisa.

Carlos Calhaz Jorge, ginecologista e membro do Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida, disse ao DN que "há apenas algumas dezenas de especialistas em todo o País" e apenas três ou quatro em cada um dos nove centros públicos. Mas não concorda que uma rede tão extensa possa pôr em causa a qualidade do tratamento.

A ausência de renovação durante anos de especialistas em ginecologia - e da medicina da reprodução, na sua sequência - está agora a sentir-se. De tal forma, que Calhaz Jorge acredita que os cinco novos centros públicos de PMA anunciados pelo Governo, "não vão passar do papel tão cedo. É o caso do Centro Materno-Infantil do Porto, Centro Hospitalar de Coimbra, da Covilhã, Almada e Faro. "Vejo com muita dificuldade o aparecimento de profissionais que possam abri-los".

João Silva Carvalho defende o "reforço da capacidade dos centros públicos e não a proliferação de centros". E deu o exemplo da Bélgica, um país que tem exactamente a mesma dimensão populacional de Portugal e que apenas tem nove centros de PMA. "As pessoas com problemas de infertilidade são tratadas nos hospitais. Quando têm de recorrer a técnicas de PMA vão a um dos nove centros", avança.

A Maternidade Alfredo da Costa, que inaugura hoje o novo centro de Procriação Medicamente Assistida é uma das unidades que já se depara com estes constrangimentos. O próprio director, Jorge Branco, disse à Lusa que vai reiniciar os tratamentos com três médicos e três biólogos, essenciais para a prática de PMA. "É difícil encontrar médicos. Não há mais e não conseguimos inventá-los", assume Jorge Branco, que já fez contactos para encontrar médicos até em Espanha, sem sucesso. Pelo menos dois saíram da MAC para o Hospital dos Lusíadas (unidade privada dos HPP) que também está a apostar neste segmento.»

Fonte:DN
Link:http://dn.sapo.pt/2009/03/09/sociedade/falta_medicos_ameaca_centros_inferti.html

Sem comentários: