quinta-feira, 5 de março de 2009

Todos os dias nascem 13 bebés filhos de mães adolescentes


«SARA GAMITO
Maternidade. Portugal é um dos países da União Europeia onde mais adolescentes engravidam. Apesar do número de casos estar a diminuir, uma gravidez precoce ameaça tanto a saúde da mãe como a do filho. Segundo especialistas, os jovens ainda têm falta de informação sobre a sua sexualidade

Todos os dias nascem 13 bebés filhos de mães adolescentes

O bebé nasceu há pouco mais de uma semana. A mãe, Madalena (nome fictício), tem apenas 16 anos e vive os seus primeiros dias de maternidade no centro de acolhimento para grávidas adolescentes da instituição Ajuda de Mãe. "A minha família não gostou da gravidez e por isso tive de vir para a residência", explica Madalena. De acordo com a jovem, o pai do bebé também "não quer saber do filho".

Segundo os últimos dados publicados pelo Instituto Nacional de Estatística, todos os dias, cerca de treze adolescentes e jovens portuguesas, entre os 13 e os 19 anos, dão à luz uma criança. Os números revelam que, em 2007, 12 destas mães eram adolescentes com apenas 13 anos.

Para Miguel Oliveira e Silva, obstetra no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, e especialista em gravidez na adolescência, parece haver um padrão na vida da maioria destas jovens: "Se ainda não abandonaram a escola, provavelmente vão abandonar. Conta-se pelos dedos das mãos as mães adolescentes que têm sucesso profissional", afirma o médico. Porém não é esse o caso de Madalena: "Estudo para fazer o 9.º ano e quero continuar para ter mais hipóteses de emprego e melhor vida", garante a jovem. Contudo, a gravidez precoce pode originar danos que vão além do insucesso profissional. Existe o risco acrescido de o bebé nascer antes do tempo. Isto porque "o canal de parto só atinge dimensões anatómicas adultas aos 16 anos, mas sobretudo devido ao stress e dúvidas decorrentes de uma gravidez involuntária", esclarece Miguel Oliveira e Silva.

Apesar de o número de crianças nascidas de mães até aos 19 anos ter vindo a decrescer - de 6144 casos em 2003 para 4844 casos em 2007 -, Portugal continua a ser um dos países europeus com maior percentagem de grávidas menores. De acordo com um estudo da ONU, em 2001, Portugal era o segundo país da UE com mais mães adolescentes, apenas superado pelo Reino Unido.

Maria Teresa Tomé, médica de família, trabalha no Centro de Atendimento a Jovens (CAJ) do Centro de Saúde de Celas, em Coimbra. Desde que o CAJ abriu, em 1987, aparecem cada vez menos raparigas grávidas em busca de auxílio. Porém, Maria Teresa Tomé espanta-se por ainda ouvir as mesmas respostas de há 15 anos, tais como: "Pensava que não engra- vidava porque era a primeira vez" ou "estava numa altura da ovulação em que não devia engravidar". Segundo a médica, os jovens estão ca- da vez mais informadas sobre a sexualidade, "mas temos de os fazer inte-riorizar que a mensagem lhes diz respeito".

Inês (nome fictício) acreditava que praticar coito interrompido seria o suficiente para não engravidar. Acabou por ter uma menina aos 17 anos e viu--se obrigada a deixar os estudos para servir às mesas. De acordo com Duarte Vilar, director executivo da associação de planeamento familiar, "há falta de informação, mas [a gravidez na adolescência] também é um problema social: muitas destas jovens já saíram da escola e estão em grupos sociais desfavorecidos".»

Fonte:Diário de Noticias
Link:http://dn.sapo.pt/2009/03/01/sociedade/todos_dias_nascem_bebes_filhos_maes_.html

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