sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

A dificuldade de amamentar (conclusão)


«por Silas A. RosaSilas Rosa - , 10/01/08 17:54

Existem algumas características do leite materno que o tornam inimitável, por mais que a tecnologia avance na produção de leites industrializados tentando, obter a cada dia, leites mais parecidos com o leite materno. A primeira destas características ímpares do leite materno é a variabilidade de composição. O leite materno tem uma composição variável acompanhando a constante variação das necessidades da criança.

Desta forma, sua composição varia não só ao longo do tempo, acompanhando o crescimento e desenvolvimento da criança, como também ciclicamente, ao longo das 24 horas de cada dia. O leite produzido no período matutino é mais concentrado, enquanto o leite produzido a tarde possui uma proporção maior de água.
A relação que se estabelece durante o período de amamentação não representa uma via de mão única, da mãe para a criança, mas uma estreita inter-relação entre ambos.

Através da sucção (estímulo tátil), do choro (estímulo sonoro) e de outras possíveis formas, que estão sendo descobertas somente agora, o bebê estimula a mãe e interfere na produção e liberação do leite, qualitativa e quantitativamente. Pesquisas mostram que o leite produzido em algumas circunstâncias especiais, como quando a criança adoece, é diferente. Quando a criança vive situação clínica que pode levá-la à desidratação, o leite produzido tem concentrações (teor relativo de água, eletrólitos e nutrientes) que se adaptam a esta nova condição.

É comum ouvir das mães de crianças que estão em aleitamento misto (leite materno e mamadeira) que quando seus filhos adoecem só aceitam o leite materno. Pedro de Alcântara, um antigo professor de Pediatria, dizia sempre que se a inteligência dos pais e pediatras falha o último recurso é contar com os mecanismos de defesa do próprio organismo da criança: seu rim, seu fígado, seus pulmões e seus instintos.

O fato da criança doente só aceitar o leite materno certamente é um desses mecanismos de defesa, priorizando o que é fundamental para sua recuperação. Portanto, o leite materno tem uma variabilidade infinita que o adapta sempre às necessidades das circunstâncias normais ou patológicas que a criança vivencia.
O leite da mãe do prematuro é diferente do leite da mulher que teve seu filho durante um período gestacional normal.

Entre outras diferenças o leite da mãe do prematuro possui uma concentração maior de ácidos graxos poli-insaturados de cadeia média, essenciais ao amadurecimento do sistema nervoso central, para compensar o encurtamento da vida intra-uterina.
Outra característica do leite materno, impossível de ser imitada pela industrialização do leite de vaca, é o seu repertório de elementos de defesa contra micróbios.

Outro velho professor de Pediatria, uruguaio, dizia, há muitos anos atrás, quando nem era ainda conhecido este repertório de substâncias anti-infecciosas do leite materno, baseado apenas nas suas observações de evolução das crianças, que o bebe amamentado exclusivamente ao seio raramente adoece e quando adoece, raramente morre. Eu sempre digo às mães que, como pediatra “cansado” que sou, defendo ardorosamente o aleitamento exclusivo ao peito no primeiro semestre de vida por interesses pessoais: não quero ter de tratar de crianças doentes.

Prefiro recebê-las periodicamente ao consultório apenas para fazer Puericultura: pesá-las, medi-las e examiná-las para, no final, dizer às mães: “parabéns, seu filho está ótimo, graças ao seu empenho em amamentá-lo”, volte no mês que vem. Quando a criança começa a receber mamadeira, iniciam os problemas: diarréia, tosse, coriza, erupção na pele e tudo o mais.
Até o “cocô” de quem mama somente leite materno é diferente: geralmente é um líquido ou uma massa amarelada praticamente inodora. Já o cocô de quem mama mamadeira se aproxima muito do cocô dos adultos com seu característico cheiro desagradável.

A maioria das crianças que mamam somente leite materno geralmente faz cocô muitas vezes ao dia, toda vez que mamam. A minoria passa alguns dias sem evacuar. Principalmente as meninas são mais propensas a este “intestino preso”. No entanto, nem os que têm o intestino solto, nem os que o têm preso, ficam incomodados quando somente mamam leite materno.

Finalizando, gostaria de lembrar o que disse no primeiro desses artigos sobre amamentação: a decisão de adotar o aleitamento exclusivo tem um preço: de início incomoda muito mais. Porém o “investimento” vale a pena e tem retorno garantido. Estas crianças darão muito menos trabalho, a médio prazo, porque não adoecem e, a longo prazo, tendem a ser adultos mais equilibrados, felizes e menos propensos aos vícios.»

Fonte:Rondo Notícias

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