sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

A dificuldade de amamentar (II) por Silas A. Rosa


«No artigo anterior enfatizamos a necessidade de se iniciar o processo de alimentação do bebê oferecendo como primeira e única opção a mama. Falamos também de um período de adaptação da dupla mãe-filho de quinze dias em que é preciso paciência e persistência, resistindo a todas as “tentações” de facilitar a vida, oferecendo outro leite ou chupeta.

Se neste período, como também após ele, por alguma razão cessar, circunstancialmente, a liberação do leite, é preferível que a criança passe algumas horas de fome a receber mamadeira. Repetimos: a primeira mamadeira é quase sempre o início precoce de um processo de desmame.
Digo sempre às mães que estão iniciando o processo de lactação que a decisão de adotar a amamentação exclusiva dos bebês no primeiro semestre da vida é o primeiro e mais importante passo para a felicidade deles.

Afirmava, no passado, que o primeiro passo, na verdade, era a decisão de se ter parto normal, mas neste quesito eu fui vencido pela evolução dos fatos. Infelizmente, a Assistência Médica, como qualquer instituição humana, é ela mesma e suas circunstâncias. Falar em parto normal, isto é, parto vaginal, é clamar no deserto. Os obstetras que comigo trabalham e que conhecem meu passado em defesa do parto normal, dizem que hoje parto normal é a cesariana, devendo se denominar o parto outrora normal de parto vaginal.

No entanto, nas maternidades públicas a freqüência de partos vaginais continua sendo superior a dos partos cesarianos. Como sou otimista, ainda espero que no futuro haja um movimento para reverter esta preferência pelas cesarianas, observada nas maternidades particulares.
Esta decisão pela amamentação exclusiva, entretanto, não é fácil. Os bebês que mamam exclusivamente leite materno inicialmente dão mais trabalho que os alimentados com mamadeiras.

Os bebês em aleitamento materno “toda hora” querem mamar, enquanto os alimentados com mamadeira “são uns reloginhos”, mamam de três em três horas. Ademais, os que mamam leite materno ficam muitos minutos sugando e, a seguir, ficam acordados, resmungando, se mexendo e exigindo atenção. Já os da mamadeira mamam e dormem... são uns anjinhos! As mães dos que somente mamam no peito dormem muito menos que as felizardas que resolveram dar mamadeira, porque os bebês amamentados com leite materno acordam muito mais vezes à noite para mamar.

No entanto, tudo isto têm o seu contraponto em favor do aleitamento materno como veremos a seguir.
A proteína principal do leite materno é a lacto-albumina. Esta proteína é de fácil digestão no estômago do bebê e em poucos minutos passa para o intestino, esvaziando o estômago. Como a fome depende em parte da plenitude gástrica estas crianças têm vontade de sugar a intervalos muito menores que os que tomam mamadeira com leite de vaca in natura ou industrializado. A principal proteína do leite de vaca é a caseína, de digestão muito mais difícil e demorada.

O leite de vaca é produto natural para alimentar bezerros que nascem com 33 quilos (e não 3 quilos como os bebês) e que, sendo ruminantes, possuem quatro estômagos (pança, rúmen, barrete e coagulador). Portanto, quando o bebê mama o leite de vaca, mesmo industrializado, com bastante caseína ele tem uma digestão difícil e demorada. É como se o bebê amamentado com leite materno comesse um prato de massas a cada ato alimentar, enquanto o “coitado” do condenado a tomar mamadeira come um prato de feijoada a cada três horas. Por isso este último só mama e dorme... na verdade “não dorme”: “desmaia” como nós, adultos, nos sábados a tarde após a feijoada do almoço.

Sempre digo às mães que o desenvolvimento neuro-psico-motor do bebê decorre de sua atividade em vigília e não das horas “mortas” em que dorme. Daí terem os bebês alimentados somente com leite materno um desenvolvimento melhor que os outros: firmam a cabeça mais cedo, sentam primeiro, engatinham antes, andam e começam a falar com idade menor, em média.

Por estas e outras razões, que ainda vamos expor nos próximos artigos, a opção da amamentação adequada (leite materno exclusivo nos primeiros seis meses e manutenção da amamentação por pelo menos mais um ano e meio depois) embora exija mais da mãe acaba compensando, principalmente se o foco da análise for o futuro dos bebês.

Fonte: Silas Rosa
Autor: Silas Rosa »

Fonte:Rondonotícias

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